terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Griffith e o surgimento do cinema narrativo

Do curitibano Ismail Xavier, acabo de ler um pequeno livro em que narra a trajetória de D. W. Griffith, publicado pela Editora Brasiliense em 1984: D. W. Griffith: o nascimento de um cinema. Em cinco capítulos mais epílogo, Ismail Xavier apresenta a ascensão e declínio desse cineasta fundador do cinema narrativo.
Os capítulos ligam, engenhosamente, aspectos da técnica cinematográfica a períodos da vida de Griffith, passando por: plano americano; campo/contracampo; continuidade; montagem e espetáculo; e melodrama.
O livro é leitura agradável, informativa e não se propõe a fazer um registro no estilo grande homem, mas, ao contrário, ao narrar a história do cineasta e abordar sua produção filmica, o faz  dentro de uma contextualização. Esta permite um entendimento mais aprofundado dessa trajetória que foi seminal para a indústria cinematográfica.
Embora o próprio Griffith tenha se atribuído, em anúncio publicado em 1913, no momento em que se afasta da Biograph films, a paternidade de uma lista de inovações (p. 30), Xavier vai comentar que ...muitos dos procedimentos que Griffith soube melhor do que ninguém coordenar podem ser constatados em filmes anteriores à sua carreira... (p. 35). No entanto,  segundo Xavier, os filmes de Griffith no período 1908-1913 podem ser vistos como ponto de inflexão que leva  à afirmação de uma nova afinidade,agora entre cinema e realismo, o espetéculo ficcional buscando o envolvimento em novas bases. é o encontro definitivo do novo veículo com a narratividade... (p. 46).
Esse encontro vai se firmar em um modelo, que pode ser visto ainda hoje, no cinema clássico Hollywoodiano, resumidamente enunciado por Xavier:
1) introdução: os letreiros antecipam o tipo de história e a lição moral que a preside...
2)os dados do equilíbrio inicial: letreiros, cenas e imagens descritivas, de atmosfera, definem personagens e ambientes... harmonia.... ou equilíbrio instável
3) ruptura: um agente externo destrói a harmonia...
4) purgatório: a(s) personagem (s) se vê(m) separada(s) da promessa de felicidade...
5) encontro providencial/retorno: uma nova promessa de felicidade se abre...
6) suspense: a felicidade tem novos obstáculos...
7) final feliz: o alívio desenha-se... (p. 80-82).
Ao final de sua carreira, Griffith fica 17 anos inativo, morrendo em 1948. Xavier, no Epílogo do livro, argumenta que o isolamento do cineasta não pode ser atribuído apenas às dificuldade de natureza pessoal, mas também a uma inadequação à nova fase que a indústria cinematográfica vive a partir de 1930. Lembrando de Chaplin, que segundo Xavier (p. 94), assim como Griffith, é um exemplo da passagem do teatro para o cinema, o autor encerra o livro comparando Griffith e Eisenstein, afirmando:
Em torno destes dois nomes, todo um período da história do cinema pode ser observado, um simbolizando a invenção que inscreve o cinema na produção industrializada de cultura e consolida o espetáculo de massas no estilo transparente da narração clássica; outro simbolizando o debate do cinema com a face problemática do presente, com a revolução e com as interrogações do artista politizado que abraça a arte moderna (p. 94-95).
Passados 65 anos desde as mortes de ambos, a impressão que tenho é que, apesar de dominante o cinema narrativo, na indústria cinematográfica pemanece a tensão entre as duas perspectivas simbolizadas por Griffiht e Eisenstein.

XAVIER, Ismail. D. W. Griffith: o nascimento de um cinema. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. 100p.

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