sábado, 16 de setembro de 2017

A volta ao mundo do cinema brasileiro em 80 filmes: 8 – Anchieta, José do Brasil



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Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-202505/fotos

Essa a volta ao mundo do cinema brasileiro está sendo mais lenta do que eu imaginara. Mas, nessa altura da vida, quem é que tem pressa? Deixo o acaso me levar aos destinos incertos dessa viagem. Hoje, voltei a 1977 com o filme de Paulo César Saraceni, Anchieta, José do Brasil.
Ao contrário do que ocorreu nas outras paradas dessa viagem, hoje tudo começou com a leitura de um artigo publicado na revista Significação de 2013. Neste artigo, Carlos Eduardo Pinto de Pinto analisa o filme de Saraceni, demonstrando as divergentes leituras que o filme teve quando de seu lançamento. Nas palavras do próprio:
A obra trata da biografia de José de Anchieta e da miscigenação cultural, temas caros à ditadura civil-militar instaurada em 1964, mas assume perspectivas diegética e narrativa em parte contrárias à visão conservadora. Não se trata, de forma alguma, de um filme absolutamente contestador, mas de uma obra ambígua, que desliza e se adequa às polaridades mobilizadas em seu circuito social, que não eram poucas. Afinal, a obra foi disputada pela Embrafilme, empresa estatal de cinema que a coproduziu e distribuiu; pela Igreja Católica, interessada na beatificação de Anchieta; pelo Cinema Novo — em fase de revisão de seus postulados políticos e estéticos —, por parte tanto de Saraceni quanto de alguns de seus pares, que questionavam suas intenções ao realizar a obra; finalmente, por críticos e teóricos, voltados para a discussão da natureza do filme histórico, num esforço de definição do gênero e de sua importância no cenário da produção cinematográfica brasileira da década (PINTO, 2013, p. 76-77)
Como informa Pinto (2013), Anchieta, José do Brasil foi o primeiro filme histórico do Cinema Novo Brasileiro e contou com financiamento da EMBRAFILME em uma época em que o governo militar estimulava, na gestão de Ney Braga no Ministério da Educação, o resgate da história brasileira. Foi nessa época, cinco anos antes que surgiu o polêmico Independência ou Morte dirigido por Carlos Coimbra, encomenda governamental para celebrar os 150 anos da independência brasileira.
O filme narra a vida do jesuíta José de Anchieta e foi protagonizado por Ney Latorraca. Com duas horas e vinte minutos de duração, um pouco longo para os padrões atuais de longas-metragens, o filme me encantou pela diversidade de enquadramentos e estilos narrativos, alternando trechos narrados por Latorraca como Anchieta, com longos trechos de diálogos em tupi-guarani, sem nenhuma tradução, e poucos trechos com diálogos entre os vários personagens históricos apresentados no filme. Embora, a narrativa siga um padrão linear, com introdução, desenvolvimento e desfecho, as soluções imagísticas forma muito diversas entre os vários segmentos da his(es)tória.
Anchieta, José do Brasil Anchieta Jose : Foto
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-202505/fotos
Em uma nota puramente pessoal, fiquei surpreso ao ver o famoso Quadrado de Trancoso na Bahia com sua igreja ser utilizado como cenário para um desfile de depoimentos de vários personagens saídos de dentro da igreja. Conheci Trancoso no ano passado e, me surpreendi, com a quantidade de pequenas casas que formavam o Quadrado de 40 anos atrás. Hoje em dia, estas são em um número muito menor.
Anchieta foi o oitavo filme na carreira de Saraceni, segundo consta no IMDB. Antes desse, ele havia realizado dois curtas – Arraial do Cabo (1960) e Integração Racial (1964) – sete longas: Amor, Carnaval e Sonhos (1973); A Casa Assassinada (1971); Capitu (1968); O Desafio (1966); e Porto das Caixas (1963). Saraceni ainda dirigiu mais seis filmes antes de sua morte em 2012.
Outro texto que faz uma análise do filme de Saraceni foi escrito por Eliane Cristina Deckmann Fleck e Fernanda Uarte de Matos com publicação em 2010 na revista Em Tempo de Histórias. A intenção das autoras com o texto pode ser compreendedia por meio desse trecho que reproduzo:
tendo presente que é preciso estar atentos aos interesses dos grupos que forjam as representações do mundo social e que estas se encontram nas matrizes dos discursos e nas práticas sociais evidenciadas – inclusive, no cinema –, ao analisarmos o filme Anchieta, José do Brasil, procuramos priorizar as relações que podem ser estabelecidas entre o pensamento e a atuação do personagem protagonista; as relações entre o projeto que o Estado tinha para o filme, a sua produção por Paulo César Saraceni e as críticas que recebeu, observando, sobretudo, o contexto político brasileiro na década de setenta no qual o longa-metragem foi produzido e comercializado (FLECK; MATOS, 2010, p. 110).
Em suma, um filme que merece ser (re)visto e dois textos que merecem ser (re)lidos.

Referências

Fleck, Eliane Cristina Deckmann; Matos, Fernanda Uarte de Anchieta, José do Brasil: cinema, representação e memória em tempos de ditadura militar. Em Tempo de Histórias, n. 16, p. 107-130, 2010.


Pinto, Carlos Eduardo Pinto de Sob o signo da ambuiguidade: uma análise de Anchieta, José do Brasil. Significação, v. 40, n. 40, p. 74-05, 2013.

domingo, 16 de julho de 2017

Revista Livre de Cinema - Um Balanço

Em março de 2014, foi publicado o primeiro número da Revista Livre de Cinema (www.relici.org.br). Foram cinco artigos inaugurais. Três meses depois, o segundo número era publicado com mais cinco artigos. Por fim, completando o primeiro volume da RELICI, em dezembro do mesmo ano, ó número 3 foi publicado com cinco artigos e dois textos na seção de Notas e Comunicações.
Depois de 1.229 dias, no último dia 12/07, publiquei a primeira edição especial da RELICI, um dossiê sobre Cinema e Filosofia, integrante do volume 4. Nessa edição foram publicadas sete artigos e quatro resenhas.
No conjunto, ao longo de pouco mais de três anos e quatro meses, tive a oportunidade de tornar públicos 98 textos sobre cinema. Esses textos foram escritos por mais de uma centena de autores. As perspectivas e abordagens dos textos foram diversas incluindo temas da educação, empreendedorismo, história, comunicação, além, é claro, do campo dos estudos em Cinema.
Graças ao sistema em que a RELICI é disponibilizada aos leitores, é possível acompanhar as estatísticas de acesso e download dos textos nela publicados. Foram, até a data de hoje, 47.872 downloads, uma média de 488,5 acessos por texto publicado.
Entre os textos publicados, os vinte mais acessados estão listados na tabela abaixo. Para cada texto há informação sobre o número de downloads, a média diária de downloads desde sua publicação, o percentual de downloads em relação ao total e o download acumulado.

Texto
N
Média por dia
%
%Ac
Cinema como fonte histórica:  possibilidades de uma nova história
2124
2,25
4,44
4,44
O Spaghetti Western de Sergio Leone
1491
1,33
3,11
7,55
Processos de individuação no filme O ano passado em Marienbad
1439
1,28
3,01
10,56
Da realidade à ficção: análise da representação da ditadura nos filmes Hércules 56 e O que é isso companheiro?
1360
1,10
2,84
13,40
Batman:  além do herói
1338
1,41
2,79
16,19
Personagesn em roteiros de cinema: um estudo dos antagonistas da trilogia de Batman, de Christopher Nolan
1291
1,05
2,70
18,89
O Empreendedorismo no campo da produção cultural: analisando a dimensão privada da ação empreendedora no audiovisual
1212
1,08
2,53
21,42
História, cinema e política: os movimentos sociais em audiovisual (1990-2010)
1154
1,03
2,41
23,83
Técnicas cinematográficas e aprendizagens e o programa de educação tutorial (PET) O PET Ciências da Natureza e Matemática (UFTM)
1129
0,92
2,36
26,19
A character named Stanley: a comparative investigation about characterization in the  adaptations of A streetcar named desire
1056
1,29
2,21
28,40
A intertextualidade hiper-real no cinema: a metalinguagem fílmico-literária em Dans la maison
1014
0,82
2,12
30,51
Cinematografia e formação inicial de professores: relato de experiências com alunos  do Pibid-Matemática (UFTM)
988
0,80
2,06
32,58
O adultério feminino mediado pelo olhar de Monique Rutler ou o charme discreto de uma burguesia republicana e falsa-moralista
940
0,84
1,96
34,54
A agressividade no meio audiovisual - uma Discussão sobre cinema e violência
905
0,96
1,89
36,43
A construçã visual Hollywoodiana da infância
834
0,88
1,74
38,17
Um Kleist cinematográfico
786
0,83
1,64
39,82
Cinema silencioso, escuta cega
784
1,07
1,64
41,45
Dentro da casa - o espaço literário de François Ozon uma análise da intertextualidade da narrativa
769
0,81
1,61
43,06
O Escafandro e a borboleta
757
1,03
1,58
44,64
Humberto Mauro e Walt Disney: duas visões sobre a saúde rural
734
0,90
1,53
46,18

domingo, 25 de junho de 2017

A volta ao mundo do cinema brasileiro em 80 filmes: 7 - Redenção



O filme de hoje tem 60 anos de idade. Realizado em 1957, é o primeiro longa metragem realizado na Bahia e a estréia de Roberto Pires (http://www.filmografiabaiana.com.br/DetalheFilme.aspx?id=61). É um thriller, seguindo a tradição hollywoodiana, uma narrativa linear que se passa em pouco mais de 24 horas, em que os personagens principais são apresentados no começo, mistério e suspense vão crescendo aos poucos, até o clímax e resolução do drama com um final feliz. A utilização da montagem paralela em partes do film contribui para a criação de um clima de suspense. Um roteiro bem elaborado, com as informações necessárias sendo reveladas de forma coerente e no momento adequado ao espectador.
Chamou minha atenção, a forma como o diretor mostrou a cidade de Salvador e seus arredores naquela época, servindo também como um documento de registro histórico e memória, como bem aponta Maria do Socorro Carvalho, em texto de 2010 na revista Tabuleiro de Letras.
Neste texto a autora comenta sobre o Ciclo de Cinema Baiano, que ela data entre 1958 e 1964,  e seu papel de depositário da memória da cidade, citando Redenção como o primeiro filme desse ciclo.
Apesar do conflito de datas, 1957 ou 1958, a versão que assisti é fruto de um esforço de restauração a partir de uma cópia do filme em 16 mm, com apoio de recursos do Fundo de Cultura da Bahia. O filme foi exibido no Canal Brasil em janeiro de 2014.
Socorro (2010) destaca em seu texto, outro filme de Roberto Pires, A Grande Feira, de 1961, que, para a autora, é a produção mais representativa da sociedade soteropolitana da época.

A ficha técnica do filme é assim apresentada em http://www.filmografiabaiana.com.br/DetalheFilme.aspx?id=61

Longa-metragem, Sonoro, Ficção
Material original: 35mm, b&p, 56', 24q, Igluscope
Origem: Salvador (BA)
Produção:1957
Estréia: Salvador (Cine Guarany)
Direção: Roberto Pires
Continuidade: Élio Moreno Lima
Companhia(s) produtora(s): Iglu Filmes Ltda
Produção: Élio Moreno Lima
Assistência de produção: Alberto Barreto
Argumento: Roberto Pires
Roteiro: Roberto Pires
Direção de fotografia : Hélio Silva
Câmera: Oscar Santana
Assistente de câmera: Alberto Barreto
Chefe de elétrica : Mario Magalhães
Iluminação: Rodi Lucheri
Montagem : Mario Del Rio
Assistente de montagem : Raimundo Higino
Orquestração : Alexandre Gnatalli
Elenco: Geraldo del Rey (Newton)
Braga Neto (Raul)
Maria Caldas (Magnólia)
Fred Jr. (Homem X)
Milton Gaúcho (Comissário de polícia)
Alberto Barreto
Normand F.Moura
Jackson O. Lemos
Raimundo Andrade
José de Matos
Costa Jr.
Rodi Luchesi
Jorge Cravo
Orlando Rego
Oscar Santana
Leonor de Barros
Élio Moreno Lima
Waldemar Brito
Roberto Pires
Kiaus Kiaus
Jorge Ernesto

Referência
Carvalho, Maria do Socorro Cinema na Bahia, memórias da cidade de Salvador. Tabuleiro de Letras, v. 3, n. 1, 12 p., 2010.

domingo, 18 de junho de 2017

A volta ao mundo do cinema brasileiro em 80 filmes: 6 - Entre Lençóis

Entre Lençóis : Foto
Fonte: AdoroCinema

Hoje a viagem recomeçou cedo e foi rápida. De repente, acordo às 4:45 da manhã. Faço um café, uma torrada com manteiga, tomo um iogurte e encerro o desjejum com uma fatia de queijo. De banho tomado, acesso o site do Canal Brasil. O filme da vez é Entre Lençóis, dirigido por Gustavo Nieto Roa e lançado para exibição nos cinemas em 2008. Uma produção da Centauro Filmes que, segundo dados da ANCINE, chegou a ser exibido em 115 salas de cinema brasileiras com um público de 136.605 espectadores.
Dois rostos bonitos. Dois corpos bem cuidados. Uma mulher. Um homem. O filme retrata o encontro de Paula (Paola Oliveira) e Roberto (Reynaldo Gianecchini) em uma discoteca. Uma troca de olhares, um pouco de dança e os dois vão para um motel. Após a primeira transa, um pacto de sinceridade é firmado, e os dois começam uma longa conversa, entremeada por relações sexuais. Cinco! Entre confidências sobre a vida amorosa de cada um (um casamento em breve e um casamento que se encerra), vai se construindo uma possivel paixão. Esta mudaria o destino dos dois? Deixo para você descobrir, assistindo o filme.
Um excesso de closes e planos médios, exploram a beleza dos dois corpos. A conversa, às vezes (talvez muitas vezes), se torna enfadonha. Música extradiegética tenta criar o clima de cada cena. Sensualidade. Tensão. Romance. Um filme comum.
Busco, como sempre faço, no Google Acadêmico, algum texto em que o filme tenha sido citado. Minha expectativa era que não encontraria nenhum. Afinal, é um filme comum. Mas, fui surpreendido pela diversidade acadêmica. Mesmo um filme comum pode ser objeto de análise.
Um artigo de Tiago de Almeida Moreira apresenta uma tipologia da representação da mulher no cinema brasileiro contemporâneo. Vinte e cinco filmes. Nove categorias. Entre os filmes analisados está Entre Lençóis. As categorias criadas por Moreira são: a imagem da mulher enquanto objeto de desejo sexual; a exploração sexual feminina; a mulher e seu envolvimento com o crime; o papel social da jovem mulher negra da periferia; a homoafetividade feminina; a mulher e o romantismo no mundo contemporâneo; a mulher jovem e suas questões existenciais; a mulher e a crise matrimonial; e a família matriarcal de baixa renda.
Entre Lençóis foi colocado na categoria dos filmes que retratam a mulher e o romantismo contemporâneo. Concordo. Lhe fazem companhia, dois filmes de Carlos Reichenbach - Garotas do ABC (2004) e Falsa Loura (2008) - e Confia em mim (2014) de Michel Tikhomiroff. Destes, apenas o último ainda não vi.

MOREIRA, T. de A. Representações sobre a mulher no cinema brasileiro contemporâneo. Geographos, v. 6, n. 80, p. 180-201, 2015.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O que explica o desempenho de filmes brasileiros? Primeiras análises

Estou preparando uma base de dados para explorar as variáveis que podem estar associadas ao desempenho de filmes brasileiros nas salas de cinema. Segundo dados da ANCINE, 1395 filmes brasileiros foram lançados nas salas de cinema entre 1995 e 2016. Os dados incluem informações sobre ano de lançamento, direção, produção, distribuição, número máximo de salas de exibição de cada filme, público e renda de bilheteria. Desse total, 59 filmes têm algum dado ausente. Assim, na base que estou montando constam 1.336 filmes. 
Tenho feito algumas leituras de textos publicados em periódicos brasileiros e estrangeiros que analisam o desempenho de filmes no mercado exibidor. Estes textos têm explorado a relação de algumas variáveis que podem estar associadas ao desempenho de filmes expresso em termos de número de espectadores e renda de bilheteria. As variáveis que são investigadas são inúmeras, envolvendo desde dados demográficos dos filmes (ano de lançamento, gênero do filme, presença de artistas famosos, empresas produtoras, empresas distribuidoras, diretores) até dados de recepção dos filmes, em especial, avaliação dos filmes pela crítica especializada e pelos espectadores na forma de notas atribuídas em sites dedicados ao campo do cinema, tais como IMDB (www.imdb.com) e Adorocinema (www.adorocinema.com). Outras variáveis que também foram usadas em alguns estudos foram dados de orçamento de produção e de divulgação dos filmes.
Estou ainda nos primeiros passos de construção dessa base de dados que pretendo utilizar em um estudo estatístico da relação entre muitas dessas variáveis e o desempenho de público e bilheteria dos filmes brasileiros. Nesse momento, estou completando as informações disponibilizadas pela ANCINE com dados obtidos nos dois sites sobre gênero dos filmes, avaliação de espectadores, avaliação da crítica especializada e indicação e recebimento de prêmios na competição Grande Prêmio do Cinema Brasileiro concedidos pela Academia Brasileira de Cinema desde 2003. As premiações estão informadas no IMDB e, para os filmes lançados antes de 2002, os prêmios registrados foram os atribuídos pela Associação Paulista de Críticos de Artes.
Neste post apresento uma análise dos 100 filmes brasileiros de maior público e renda obtida nas salas de cinema entre 1995 e 2016. Esta centena de filmes foi vista por pouca mais de 222 milhões de espectadores e conta com filmes lançados em todos os anos desde 1995, exceto 1996. Como é usualmente referenciado na literatura do campo, 1995 marca o ano da Retomada do cinema brasileiro, após a grande queda na produção e exibição nos cinemas de filmes brasileiros, a partir de 1992 com os atos do governo Collor que extinguiu a EMBRAFILME e as políticas de estímulo ao setor. Fazem parte da lista Carlota Joaquina, Princesa do Brazil de Carla Camurati e O Quatrilho de Fábio Barreto que tiveram 1.286.000 e 1.117.154 espectadores, respectivamente. Desde então, como pode ser constatado pelas estatísticas brasileiras, o lançamento de filmes brasileiros tem crescido, muito chegando a 143 filmes no ano passado. Pouco mais da metade desses filmes, foram lançados nos últimos sete anos. Antes de 2000, foram nove filmes e entre 2000 e 2009, foram 39 filmes. Os dados parecem indicar que nos anos recentes, os filmes brasileiros têm conseguido atrair maior público. O gráfico mostra essa evolução.
O mercado de produção de cinema brasileiro é dominado pelos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Conforme apontei em post anterior (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2017/05/filmes-brasileiros-lancados-no-cinema.html) estes dois estados foram responsáveis por mais de 905 dos filmes lançados desde 1995. Entre os cem de maior público, a presença da produção carioca é dominante, 85% dos filmes, sendo de São Paulo os 15 restantes. Em apenas um filme, O Candidato Honesto de Roberto Santucci, aparece uma produtora mineira em coprodução com uma carioca.
Foram 49 empresas produtoras envolvidas nesta centena de filmes. Sete produtoras alcançaram um público maior do que dez milhões, entre as quais se destaca a Diller & Associados com 12 filmes e mais de 21 milhões de espectadores, Entre os doze filmes produzidos pela Diller, estão os sete filmes em que Xuxa, a apresentadora de programas infanto-juvenis, estrelou e três relacionados aos Trapalhões, programa de televisão criado por Renato Aragão. As produtoras Lereby e Conspiração surgem em segundoe terceiro lugar em número de filmes com 17,5 milhões e 13,5 milhões de espectadores, respectivamente. A Total Entertainment e a Casé Filmes inegram a lista com cinco filmes cada uma e público, respectivamente, de 15, 8 e 10,3 milhões. A Zazem Produções com apenas dois filmes, atingiu 13,6 milhões de público. Esta foi a produtora de Tropa de Elite que alcançou 2,4 milhões de espectadores e de Tropa de Elite 2, que até o ano passado era o filme brasileiro de maior público (11,1 milhões). A Rede Record de Teelvisão aparecde na lista com apenas um filme, justamente o de maior público, Os Dez Mandamentos - O Filme, que atingiu a venda de 11,3 milhões de ingressos. todavia, houve uma polêmica na imprensa sobre este filme, visto que, embora muitos ingressos tenham sido vendidos, as salas de exibição não estavam repletas como seria esperado. Parece ter havido um movimento de compra de ingressos pela igreja ligada á produtora. A tabela a seguir detalha essas informações para as produtoras com público maior que cinco milhões de espectadores.
Produtora
Filmes
Público
Diler & Associados
12
21.073.243
Conspiração Filmes
7
17.508.313
Total Entertainment
5
15.810.369
Zazen Produções Audiovisuais
2
13.568.018
Lereby
8
13.505.584
Rede Record de Televisão
1
11.305.479
Casé Filmes
5
10.345.756
Gullane Filmes
3
9.151.153
Morena Filmes Ltda.
2
8.352.825
Atitude Produções e Empreendimentos
3
7.880.000
Globo Filmes
4
7.306.776
Migdal Produções Cinematográficas
2
5.548.687
Paris Produções
2
5.061.364
A forma de distribuição pode ser uma variável importante para o desempenho dos filmes nas salas de cinema. Foram 25 empresas, seja atuando de forma isolada ou em consórcios de codistribuição, que distribuíram os 100 filmes brasileiros de maior público entre 1995 e 2016. 59 filmes tiveram distribuição por apenas uma empresa, em um conjunto de quinze distribuidoras. Em termos de atuação independente, três majors tiveram destaque - Columbia, Fox e Warner - com um público de 72,2 milhões para 33 filmes. Por outro lado, o consórcio formado pela Downtown e Paris, duas empresas brasileiras, foi responsável pela distribuição de 21 filmes atingindo quase 57 milhões de público. Essas duas empresas, ainda, se assocairam à RioFilme na distribuição de seis filmes com um público de 16,2 milhões. Chama a atenção o caso da Dowtown que parece atuar agressivamente em consórcios de distribuição. Além dos dois mencionados, esta distribuidora esteve presente na distribuição de mais quatro filmes em parceria com outras distribuidoras. No conjunto de 31 filmes que a Dowtown teve presença como distribuidora, o público total foi de 81,4 milhões, o que corresponde a 36,7% do público total dos 100 filmes analisados. Seguramente, é a maior presença de uma distribuidora nessa parcela de filmes do cinema brasileiro. Por fim, ressalto o caso único da Zazen que distribuiu o filme Tropa de elite 2 o que a posicionou entre as distribuidoras de maior público, embora com apenas um filme. A tabela a seguir apresenta os dados para todas as distribuidoras e consórcios de distribuição.
Distribuidora
Público
Filmes
Downtown/Paris
56.966.458
21
Columbia
27.735.461
13
Fox
26.979.825
11
Warner
17.537.068
9
Downtown/Paris/Riofilme
16.200.316
6
Zazen
11.146.723
1
Lumière
10.217.199
4
Imagem
9.241.917
6
Buena Vista
4.104.151
4
Imagem (Wmix)
3.863.903
2
Sony/Disney (Columbia) / Downtown
3.413.231
1
H2O Films
3.307.837
1
Disney
2.971.207
2
Europa/Riofilme
2.955.270
2
Universal
2.421.295
1
Imagem/Riofilme
2.176.999
1
Sony/ Downtown
2.099.294
1
Europa/ MAM
2.035.576
1
Downtown/Riofilme
1.866.403
1
Imagem/Fox
1.715.763
1
Universal / Europa / Elo
1.637.032
1
S. Ribeiro/ RioFilme
1.593.967
1
Columbia/ Art Filmes
1.501.035
1
Playarte
1.307.135
1
Elimar
1.286.000
1
Paramount
1.211.083
1
S. Ribeiro
1.117.154
1
Sony/Disney (Columbia)
955.393
1
Art Filmes/ MAM
853.210
1
Downtown/Europa
848.733
1
Sony
816.971
1
A seguir, apresento as estatísticas sobre os gêneros dos 100 filmes de maior bilheteria do cinema brasileiro nos últimos 22 anos. Para isso, utilizei as informações registradas nos dois site mencionados. Muitos filmes foram enquadrados em mais de um gênero. Como era de se esperar, pelo menos por quem acompanha o mercado cinematográfico brasileiro, a maior parte dos filmes de melhor desempenho em termos de bilheteria são comédias (60%), seguidos por drama (31%). Veja a tabela completa a seguir.
Adorocinema
Imdb
Gênero
Filmes
Gênero
Filmes
Comédia
62
Comedy
60
Drama
32
Drama
31
Família
15
Romance
20
Romance
15
Family
18
Aventura
11
Adventure
11
Fantasia
7
Biography
11
Biografia
6
Crime
8
Ação
5
Fantasy
8
Histórico
4
History
6
Suspense
3
Music
5
Ficção Científica
2
Action
3
Policial
2
Sci-fi
2
Épico
1
Mistery
1
Musical
1
Musical
1


Thriller
1
Além do gênero comédia ser predominante nessa amostra de filmes, outra característica marcante é a presença de artistas famosos da televisão protagonizando os personagens principais dos filmes. Embora eu ainda vá refinar o processo de identificação dessa presença, em uma análise preliminar, em 85% dos filmes há pelo menos dois artistas reconhecidamente famosos por suas atuações em programas e novelas da televisão brasileira, especialmente a TV Globo.
Em termos de reconhecimento do valor artístico desses filmes, 44 deles não foram indicados para nenhum tipo de premiação e 56 tiveram ao menos uma indicação para premiação seja pela Academia Brasileira de Cinema ou pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Entre os indicados, houve doze que ganharam como melhor filme, sete prêmios de melhor direção, quatorze de melhor atriz/ator e oito de melhor fotografia.  No total, 31 filmes ganharam ao menos um prêmio entre as diferentes categorias de premiação.
Por fim, alguns diretores conseguiram se destacar entre os 55 cineastas presentes na lsitagem dos 100 filmes. em primeiro lugar, Roberto Santucci dirigiu 9 filmes e obteve um público de 25,3 milhões de espectadores. Daniel Filho com sete filmes e 17,5 milhões de público ficou na segunda posição. Cris D'Amato e José Alvarenga Júnior dirigiram cinco filmes cada um, sendo que um dos filmes de Cris D'Amato foi em codireção com Daniel Filho. Cris D'Amato conseguiu 6,9 milhões de espectadores ao passo que José Alvarenga Júnior obteve 10,9 milhões. Por fim, três cineastas apareceram na lista dos 100 filmes de maior bilheteria com quatro filmes cada um. Estes foram Tizuka Yamazaki, Moacyr Góes e Felipe Joffily com públicos de 7,3, 6,8 e 7,4 milhões respectivamente.
Á guisa de conclusão, é claro que não posso afirmar que estas variáveis estejam associadas ao desempenho dos filmes brasileiros sem fazer uma análise de todos os filmes. No entanto, nessa pequena amostra, algumas evidências já apontam para a importância de gênero, e formato de distribuição, visto que os consórcios e as empresas majors parecem dominar esse mercado.