sábado, 24 de setembro de 2016

A chanchada no cinema brasileiro

Neste pequeno livro de 1983, Afrânio M. Catani e José I. de Melo Souza fazem uma incursão pela história do cinema brasileiro para narrar um período marcante de aproximação do cinema nacional com o povo brasileiro.
Concordando com Jean-Claude Bernadet, os autores afirmam que a primeira fase da chanchada brasileira se associa com alguns filmes cômicos dos anos 10 e 20 do cinema brasileiro. A segunda fase, para eles, começa em 1929, com a realização de Acabaram-se os otários  de Luiz de Barros. Situam o início da terceira fase entre 1944 e 1945 com os filmes carnavalescos Tristezas não pagam dívidas (1944) e Não adianta chorar (1945). É nesse período que surge a Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S/A. Por fim, uma quarta e última fase das chanchadas brasileiras, segundo Catani e Melo Souza se dá a partir de 1949 até o começo dos anos 60, com os filmes de critica social, especialmente na produção da Vera Cruz (p. 9-10).
Ao final do livro, comentam que foi graças às chanchadas e à receptividade junto ao grande público que o cinema brasileiro conseguiu sobreviver, apesar da enorme concorrência estrangeira. Mas, apenas sobreviver.... no auge das chanchadas - na primeira metade dos anos 50 - o cinema brasileiro ocupava somente 6% do mercado exibidor (p. 88).
Interessado que sou no entendimento da indústria do cinema brasileiro, procurei registrar uma pequena cronologia com alguns dados que surgem ao longo do livro:
a) 1930 – Cinédia é fundada por Ademar Gonzaga, em 16 de março (p. 25);
b) 1933 – Carmem Santos, atriz que atuava no cinema brasileiro desde 1919, fundou a Brasil Vita Filmes (p. 26);
c) 1934 - Obrigatoriedade do complemento nacional nas programações (p. 16 -17). Decreto 24.651 amparava e estimulava a produção de “filmes educativos” (p. 27);
d) 1935 – Wallace Downey criou a Waldow Filmes S/A (p. 26). Alô, Alô Brasil produção de Downey teve 124 dias de exibição (p. 33);
e) 1939 - Wallace Downey criou a Sonofilmes (p. 26);
f) 1939 – Fracasso da Empresa Sul Americana de Filmes (p. 26);
g) Durante a Segunda Guerra – Decreto (?) cria o Conselho Nacional de Cinema que raramente funcionou (p. 35);
h) 1941 – Criação da Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S/A em 16 de setembro (p. 36);
i) 1943 – Moleque Tião, primeiro filme da Atlântida, com Grande Otelo, exibido por 132 dias em São Paulo (p. 39-40). Tristezas não pagam dívidas, lançado no Rio, ficou 139 dias em cartaz (p. 42);
j) 1941 a 1947 – Consolidação da Atlântida como maior produtora do Brasil com estratégia em duas linhas complementares: chanchadas e fitas “socializantes” (p. 45); Segundo os autores, essa estratégia fez com que os filmes da empresa permanecessem anunciados em alguns cinemas dos grandes centros durante todo o ano, embora com minguados lucros (p. 46) devido a fraudes nos informes das salas exibidoras;
k) 1947 – Aumento do número de produtores e produções: Cinegráfica São Luiz, Cinelândia Filmes, Tapuia; truste exibidor de Luis Severiano Ribeiro Jr torna-se produtor que anteriormente comprara cotas da Distribuidora de Filmes Brasileiros (DFB) e da Distribuidora Nacional (DN) (p. 50). Coligada: União Cinematográfica Brasileira (UCE). Severiano torna-se acionista majoritário da Atlântida (p. 52);
l) 1949 – Em 03 de novembro foi criada a Companhia Cinematográfica Vera Cruz (p. 57). Em sua esteira surgiram a Maristela, Multifilmes e mais 40 ou 50 produtoras independentes (p. 57-58);
m) 1950 – Implantação da televisão no Brasil; Termina a década com 600.000 aparelhos instalados. (p. 63);
n) 1952 – Eliana Macedo acompanha o tio Watson Macedo e vai trabalhar na Watson Macedo Produções Cinematográficas (p. 47);
o) Entre 1947 e 1962 – com Severiano no comando da Atlântida, e atuando na produção, distribuição e exibição, foram lançadas dezenas de filmes (entre 40 e 80, dependendo da fonte) (p. 65).


Catani, Afrânio Mendes; Souza, José Inácio de Melo Souza A chanchada no cinema brasileiro. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983, 99p.

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