quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cinema Brasileiro

Um livreto publicado pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul apresenta uma coleção de textos escritos por Carlos Diegues e selecionados por Sergio Roberto da Silva. Publicação de 1988, o livreto contém 18 textos publicados originalmente entre maio de 1970 e outubro de 1987.

Cineasta atuante desde 1963, com seu primeiro filme Ganga Zumba, Diegues integrou o grupo de realizadores do Cinema Novo. Já realizou vinte um filmes nessa carreira que completa 50 anos em 2013. Entre os filmes dele que me marcaram estão: Bye Bye Brasil (1979), Chica da Silva (1976) e Chuvas de Verão (1978). Orfeu (1999), Tieta do Agreste (1995) e Deus é Brasileiro (2002) são filmes que também assisti, mas sem uma impressão muito forte sobre mim. Inegável é a preocupação de Diégues com o bem fazer no cinema, suas produções tendem a uma ótima qualidade.

Entre os textos do livro, é interessante reler, pelo menos do ponto de vista de Diégues, a polêmica sobre o que ele chamou de patrulhas ideológicas na cena cultural brasileira. Este tema é abordado em "Alguma coisa acontece no meu coração" de agosto de 1978 (p. 24 a 29) e "O prazer de pensar"de maio de 1979 (p. 46 a 51).

Tema recorrente em seus textos é o Cinema Novo. Em junho de 1973, Diégues faz uma reflexão sobre uma década passada do movimento no texto "Cinema Novo: de 1963 a ...." (p. 17 a 23).

Em suma, o livro assume uma forma de documento que ajuda e entender um pouco da história do cinema brasileiro, sob a perspectiva de um cineasta que está nessa lida há 50 anos.

DIEGUES, Carlos. Cinema Braisleiro: idéias e imagens. Porto Alegre: Ed. da Universidade/ufrgs; mec/sesU/proed, 1988. 109 p.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O que é cinema

Jean-Claude Bernardet apresenta uma discussão interessante sobre o cinema, abordando sua história de forma sucinta, a formação do modelo dominante hollywoodiano, explicações sobre o surgimento da linguagem cinematográfica, características da mercadoria e do mercado do cinema e a oposição entre outras cinematografias nacionais com a americana e os cinemas novos.
Às páginas 58, 59 e 60 comenta sobre tentativas de financiamento coletivo, à maneira do atual crowdfunding, nos anos 30 do século, em particular “a atitude do francês Jean Renoir quando fez a Marselhesa (1938): com o apoio da Frente Popular, foi aberta uma subscrição, como se os espectadores pagassem o seu ingresso antes da realização do filme para possibilitar a sua produção” (p. 59). Cita, ainda, o filme de Joris Ivens Terra de Espanha, de 1937, feito com Hemingway filmado com contribuições individuais e de entidades políticas simpáticas ao projeto que apresentava uma visão antifacista da guerra civil espanhola.

Bernardet, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo: Nova Cultural: Brasiliense, 1985, 118p.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Estudos de Cinema na Universidade Brasileira

Tive a oportunidade de conhecer o Professor Fernão Pessoa Ramos em aula inaugural do curso de especialização em Cinema da Univesidade Tuiuti no ano passado. Encontrei um artigo seu, comentando sobre o campo dos Estudos de Cinema no Brasil, publicado em 2010 na Revista ALCEU da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/Alceu20_Ramos.pdf).
Em um texto curto, bem elaborado, o Prof. Fernão Ramos aponta para três disciplinas componentes do núcleo dos Estudos de Cinema: “História do Cinema”, “Teoria do Cinema” e “Análise Fílmica”. Ademais, no artigo critica a vinculação do estudo do cinema à evolução das mídias, defendendo a ideia de que "O cinema deve ser entendido enquanto forma narrativa que pode ser veiculado por mídias diversas: pela televisiva, pela mídia sala de cinema ou, mais recentemente, pela internet ou outras mídias digitais" (p. 164).
Em síntese, para o Prof. Fernão Ramos "Estudos de Cinema, portanto, não é o ensino prático de como fazer cinema (embora possa e deva interagir com esta dimensão) e também não é o estudo das mídias (televisão, internet), nem das humanidades (antropologia e história), das artes plásticas, da literatura, ou do teatro. Tem no centro irradiador a forma narrativa cinematográfica em sua unidade, o filme, interagindo com seus autores." (p. 167)
Uma boa introdução aos estudos do Cinema para quem está iniciando essa jornada!

RAMOS, Fernão Pessoa Estudos de Cinema na universidade brasileira. ALCEU, v. 10, n. 20, p. 161-167, 2010.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Breve História do Cinema

Cinema: o mundo em movimento apresenta uma breve história do cinema contada por Inácio Araújo. Gostei muito da apresentação de termos e suas definições. Interessante a distinção entre montagem emocional (Griffith) e a montagem racional (Eisenstein):

Esta é a grande diferença entre Griffith e seu discípulo Eisenstein – os dois grandes criadores da montagem. Enquanto Griffith procurava envolver o espectador emocionalmente, pela continuidade narrativa, Eisenstein enfatizava o papel da razão: a emoção era um meio para o espectador compreender mais amplamente a realidade que o circundava (p. 50).

Descrição dos principais gêneros e escolas no último capítulo.

Prognóstico errado: considerou o documentário um gênero superado com o aparecimento da televisão. (É impressionante o vigor do cine documentário hoje em dia).

Indicações de filmografia e bibliografia muito boa ao final.

Araújo, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione, 1995. 103p.

domingo, 27 de janeiro de 2013

As pernas das mulheres são mágicas?

Há quarenta anos, Truffaut fez "A noite americana", filme que conta a história da realização de um filme. Cinema dentro do cinema. Apaixonante! Impossível não gostar de cinema depois desse filme.
Um dos personagens do filme faz algumas vezes a mesma pergunta: As mulheres são mágicas? Cada um de seus interlocutores dá uma resposta diferente, mas a que eu mais gostei foi a dada por um dos assistentes de filmagem:
_ Não. As pernas das mulheres é que são mágicas.
Depois de ver o filme, fui procurar algum texto que pudesse me ajudar a ampliar o entendimento do mesmo. Encontrei um artigo de Raffaella de Antonellis na Revista Sessões do Imaginário da PUC do Rio Grande do Sul (http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/viewFile/773/584).
No texto a autora faz uma análise do significado do "plano das pernas" em uma filmografia selecionada de Truffaut. Ela não comenta "A noite americana", mas aborda cinco filmes de Truffaut e acaba apontando dois elementos de signficado associados ao "plano das pernas" na filmografia de Truffaut: a escada e o subsolo. Este associado ao inconsciente e ao intrauterino e aquela tida como símbolo onírico do ato sexual.
Vale pena conferir, pois além dessa análise, a autora apresenta uma lista da filmografia de Truffaut.

ANTONELLIS, Raffaella O homem que amava as pernas. Sessões do Imaginário, n.8, agosto, p. 27-32, 2002.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Dialética do Espectador


Em Dialética do Espectador, de Tomás Gutiérrez Alea, encontram-se seis ensaios do cineasta cubano, famoso por Memorias del subdesarrollo de 1968. Além dos seis ensaios do autor, há ainda um prólogo de Jorge Ayala Blanco; de Aléa são também a Introdução e um apêndice onde o cineasta comenta sobre a repercussão de Memorias del subdesarrollo. A tese explorada pelo cineasta é de que a relação espetáculo-espectador é de natureza dialética, contrapondo razão e emoção, levando “a um enriquecimento espiritual do espectador e um maior conhecimento da realidade, a partir de uma experiência – uma vivência – estética” (p. 87), mas também estimulando uma visão crítica e novo posicionamento deste em face da realidade que o envolve. É no ensaio “6. Alienação e desalienação. Eisenstein e Brecht”, que Alea atinge o ápice de sua tese, evidenciando as posições de ambos, patológica de Eisenstein e racional de Brecht, polos em relação dialética, que defendem paradoxalmente a mesma síntese: ciência e arte. Este buscando a emoção da lógica, aquele pensando na lógica das emoções (p. 84). Brilhante ensaio em livro primoroso!

Alea, Tomás Gutiérrez Dialética do espectador: seis ensaios do mais luareado cineasta cubano. São Paulo: Summus, 1984. 114p.