sábado, 13 de julho de 2013

A trilogia Flamenca de Carlos Saura

Em um pequeno livro, de autoria de Julio Garcia Morejón, encontram-se três textos originalmente publicados pelo autor em O Estado de São Paulo nos anos 80. Apesar do estilo apaixonado do autor, formam uma leitura instrutiva para quem deseja conhecer um pouco mais da filmografia de Saura, especialmente os que compõem o que Moréjon denomina trilogia flamenca: Bodas de Sangue, Carmem e O Amor Bruxo.

O autor foi o primeiro diretor da Escola de Comunicação e Artes da USP, criada em 1965 com o nome de Escola de Comunicações Culturais. Julio Garcia Morejón era, à época, professor catedrático da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da mesma universidade(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141994000300074).

Nos textos, o professor Morejón discorre sobre a parceria entre Saura e Antonio Gades na realização dos três filmes, além de relatar aspectos culturais e históricos de seu país de nascimento, a Espanha*. Aponta, no último texto, a dificuldade que Saura enfrentou para exercer seu poder de síntese, manifestado na realização de Bodas de Sangue Carmen, no caso d'O Amor Bruxo. Ao contrário dos dois primeiros, baseados em obra da literatura espanhola e outro em uma ópera, O Amor Bruxo foi baseado em um ballet de Manoel de Falla, o que acarretou, segundo Moréjon, a impossibilidade de uma paráfrase por que "seu profundo regionalismo - que dada a forma culta e a beleza no tratamento dos temas fazem dela uma obra universal -, impede transcrições ousadas" (p. 89-90).

* Nascido em 1929, em Valencia de don Juan, trabalhou na Universidade de Salamanca. Em 1954, mudou-se para São Paulo e começou seu trabalho como professor catedrático na USP. Fundou a Universidade Ibero-Americano em 1971.(http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios2_f.htm).

MOREJÓN, J. G. Carlos Saura - Trilogia "Flamenca" (Bodas de sangue - Carmen - O amor bruxo). São Paulo: UNIBERO, 2001, 90p.



Para conhecer um pouco sobre webdocumentários

Li hoje a monografia de graduação Webdocumentário: reflexões sobre uma nova narrativa jornalística defendida em novembro de 2012 pela Maila Klegien no curso de jornalismo da ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL BOM JESUS / IELUSC.
Maila é minha colega do cursos de especialização em cinema da Universidade Tuiuiti. A leitura de seu trabalho foi muito agradável, texto muito bem escrito, e pude aprender um pouco sobre essa forma de documentário.
Maila também é autora de um webdocumentário que assisti. Uma produção bem legal sobre os principais trabalhos de Tim Burton (http://djornal.wix.com/burtonesque#!).
Para quem quer conhecer o que é um webdocumentário e acessar alguns exemplos, recomendo a leitura da monografia da Maila e o acesso dos webdocumentários que ela analisou e citou:

KLEGIEN, D. M. Webdocumentários: reflexões sobre uma nova narrativa jornalística. Monografia de Graduação. Curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc, 2012.

Rio de Janeiro Autorretrato: http://www.riodejaneiroautorretrato.com.br/riodejaneiroautorretrato/dev2011/

The Big Issue: http://www.honkytonk.fr/index.php/thebigissue/

Graffitti: http://www.webdocgraffiti.com.br/

Papua Nova Guiné: http://webdocs.dw.de/papua/portuguese

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cinema feminista

Recentemente foi publicado um edital lançando o Prêmio Carmen Santos Cinema de Mulheres 2013 (http://www.cultura.gov.br/secretaria-do-audiovisual-sav/). A iniciativa conjunta da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura e da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República tem o objetivo de apoiar obras audiovisuais concebidas e dirigidas por mulheres.

No mês passado tive aulas com David Foster que ministrou a disciplina sobre Cinema Latino Americano no curso de Especialização em Cinema da Universidade Tuitui do Paraná (UTP). Em suas aulas, tivemos a oportunidade de aprender sobre a possibilidade de uma perspectiva sócio-histórica na análise da produção cinematográfica. Para tanto, assistimos a três filmes: La Rabia, um drama argentino dirigido por Albertina Carri, lançado em 2008;  Suite Habana, produção de 2003, do cubano Fernando Pérez; e Cinco Dias sem Nora, obra mexicana, também de 2008, escrita e dirigida por Mariana Chenillo. Um exemplo dessa perspectiva pode se encontrada, em artigo que ele publicou em 2006, analisando a presença da mulher no cinema da América Latina. O trabalho saiu no primeiro número da Revista INTERIM, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da UTP.

Foster constrói seu argumento com base na história de duas atrizes mexicanas, María Rojo e Sara García, uma diretora mexicana, María Novaro e uma diretora argentina, María Luisa Bemberg. Para comentar as trajetórias cinematográficas dessas mulheres, em sua discussão, o autor salienta dois princípios que julga importantes para a existência de um projeto feminista de cinema na América Latina. 

Primeiramente, a importância das histórias de mulheres serem narradas, não exclusivamente, mas principalmente por elas mesmo. Nas palavras de Foster, para serem consideradas como produções feministas, não basta que elas sejam sobre determinadas histórias de mulheres: é preciso que haja mulheres envolvidas em todos os níveis, no projeto de produção, na direção, no roteiro e, acima de tudo, no elenco. 

Em segundo lugar, o rompimento com as convenções narrativas do cinema masculino deve ser exercitado. Ou como afirma Foster: Contar as histórias de outra maneira, resistir abertamente às expectativas da novela comercial, procurar o “outro lado” do tecido narrativo, fazer tropos pouco imagináveis das fórmulas milenares, não contar o que se espera contar e contar o que se espera não contar, escandalizar, perturbar, incomodar, descentralizar e inverter esquemas, são todos recursos na dinâmica discursiva de um ponto de vista feminista.

Ao ler o texto do Professor Foster, lembrei-me de alguns filmes da cinematografia contemporânea brasileira que parecem ser consistentes, de uma forma ou de outra, com as ideias apresentadas pelo autor. Filmes que tentaram, principalmente, romper com convenções narrativas. Por exemplo, o documentário brasileiro Elena de Petra Costa, cujo lançamento ocorreu em 2012 e o longa de estréia de Julia Murat, Histórias que Só Existem Quando Lembradas, lançado em 2011. Também, embora dirigido por um homem (a exceção que confirma a regra?), Sudoeste, produção de 2011 com direção de Eduardo Nunes. Embora em formatos distintos, os três filmes possuem estrutura narrativa e escolhas de filmagem muito distintas do padrão usual de construção de filmes.  

Tomara que o Prêmio Carmen Santos Cinema de Mulheres 2013 permita o desenvolvimento de mais filmes dessa estirpe.

FOSTER, D. W. Mulher e Cinema na América Latina. Revista Interim, v. 1, n. 1, 14p, 2006.



REBECA – Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual

Desde o ano passado, a Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE) passou a publicar a REBECA - Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Leitura de qualidade com livre acesso em http://www.socine.org.br/rebeca/.