terça-feira, 9 de julho de 2013

Cinema feminista

Recentemente foi publicado um edital lançando o Prêmio Carmen Santos Cinema de Mulheres 2013 (http://www.cultura.gov.br/secretaria-do-audiovisual-sav/). A iniciativa conjunta da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura e da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República tem o objetivo de apoiar obras audiovisuais concebidas e dirigidas por mulheres.

No mês passado tive aulas com David Foster que ministrou a disciplina sobre Cinema Latino Americano no curso de Especialização em Cinema da Universidade Tuitui do Paraná (UTP). Em suas aulas, tivemos a oportunidade de aprender sobre a possibilidade de uma perspectiva sócio-histórica na análise da produção cinematográfica. Para tanto, assistimos a três filmes: La Rabia, um drama argentino dirigido por Albertina Carri, lançado em 2008;  Suite Habana, produção de 2003, do cubano Fernando Pérez; e Cinco Dias sem Nora, obra mexicana, também de 2008, escrita e dirigida por Mariana Chenillo. Um exemplo dessa perspectiva pode se encontrada, em artigo que ele publicou em 2006, analisando a presença da mulher no cinema da América Latina. O trabalho saiu no primeiro número da Revista INTERIM, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da UTP.

Foster constrói seu argumento com base na história de duas atrizes mexicanas, María Rojo e Sara García, uma diretora mexicana, María Novaro e uma diretora argentina, María Luisa Bemberg. Para comentar as trajetórias cinematográficas dessas mulheres, em sua discussão, o autor salienta dois princípios que julga importantes para a existência de um projeto feminista de cinema na América Latina. 

Primeiramente, a importância das histórias de mulheres serem narradas, não exclusivamente, mas principalmente por elas mesmo. Nas palavras de Foster, para serem consideradas como produções feministas, não basta que elas sejam sobre determinadas histórias de mulheres: é preciso que haja mulheres envolvidas em todos os níveis, no projeto de produção, na direção, no roteiro e, acima de tudo, no elenco. 

Em segundo lugar, o rompimento com as convenções narrativas do cinema masculino deve ser exercitado. Ou como afirma Foster: Contar as histórias de outra maneira, resistir abertamente às expectativas da novela comercial, procurar o “outro lado” do tecido narrativo, fazer tropos pouco imagináveis das fórmulas milenares, não contar o que se espera contar e contar o que se espera não contar, escandalizar, perturbar, incomodar, descentralizar e inverter esquemas, são todos recursos na dinâmica discursiva de um ponto de vista feminista.

Ao ler o texto do Professor Foster, lembrei-me de alguns filmes da cinematografia contemporânea brasileira que parecem ser consistentes, de uma forma ou de outra, com as ideias apresentadas pelo autor. Filmes que tentaram, principalmente, romper com convenções narrativas. Por exemplo, o documentário brasileiro Elena de Petra Costa, cujo lançamento ocorreu em 2012 e o longa de estréia de Julia Murat, Histórias que Só Existem Quando Lembradas, lançado em 2011. Também, embora dirigido por um homem (a exceção que confirma a regra?), Sudoeste, produção de 2011 com direção de Eduardo Nunes. Embora em formatos distintos, os três filmes possuem estrutura narrativa e escolhas de filmagem muito distintas do padrão usual de construção de filmes.  

Tomara que o Prêmio Carmen Santos Cinema de Mulheres 2013 permita o desenvolvimento de mais filmes dessa estirpe.

FOSTER, D. W. Mulher e Cinema na América Latina. Revista Interim, v. 1, n. 1, 14p, 2006.



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