Há
pouco mais de dez dias, foi publicado no Observatório Brasileiro do Cinema e do
Audiovisual (oca.ancine.gov.br) o arquivo “Resultados Mensais do Cinema
Brasileiro – Dados Sadis Detalhado 2019) que traz informações sobre o
comportamento de público e renda do mercado de exibição de filmes em salas de
cinema no Brasil. Anualmente, a partir desses dados, sintetizo nesse blog,
alguns dos resultados do filme brasileiro nesse mercado. Vamos lá, então!
Em
primeiro lugar, alguns dados gerais. Em 2019, foram exibidos 626 filmes nas salas
de cinema. Desse total, dois terços foram filmes estrangeiros e um terço (211)
brasileiros. Esses números representam uma redução, em comparação com 2018, para
as duas categorias, no número de filmes exibidos no mercado. No ano anterior,
foram 707 filmes, sendo 454 estrangeiros (64%) e 253 brasileiros (36%). As proporções,
no entanto, sofreram pouca alteração, com perto de dois terços dos filmes exibidos
nas salas de cinema do Brasil, oriundos de outros países. Embora neste arquivo
não haja informações sobre os países de produção dos filmes, como em outros
anos, o domínio da produção hollywoodiana deve ter se mantido em 2019 no
mercado de exibição brasileiro.
No
entanto, apesar da redução do número de filmes exibidos, o público total de
cinema teve crescimento em 2019. Foram vendidos 176.346.636 ingressos em 2019.
Um crescimento de 7,89% em relação a 2018. De igual forma, a renda de
bilheteria obtida em 2019, em valores nominais, também cresceu. Nesse caso, o
aumento foi de 13,49%, muito acima da inflação de 2019 que foi de 4,31%, medida
pelo IPCA, conforme dados do IBGE (https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php).
Ir ao cinema ficou mais caro em 2019!
Aliás,
a questão do preço de ir ao cinema no Brasil é evidenciada pelo indicado PMI em
reais, que representa média do ingresso pago pelos espectadores de cinema. No
geral, entre 2018 e 2019, houve aumento nesse indicador de 5,19%, passando de
R$ 15,04 para R$ 15,82. No entanto, esse acréscimo foi muito maior para os
filmes brasileiros, cujo PMI oscilou de R$ 11,97 para R$ 13,77, variação de
15,06%. Por outro lado, o PMI dos filmes estrangeiros cresceu muito menos,
apenas 3,82%. Isto significou um acréscimo de R$ 0,60 sobre o valor de 2018 que
foi R$ 15,57.
Essa
diferença de comportamento se refletiu, ainda, no crescimento das bilheterias
de cada categoria de filme. A renda de bilheteria dos filmes nacionais teve um
crescimento de 21,55%, enquanto o dos filmes estrangeiros foi de 12,42%. Isso
em número absolutos é representado por R$
352.613.884,00 para os filmes brasileiros em 2019, contra R$ 2.437.379.639,00
dos filmes estrangeiros. Assim como no caso de número de filmes exibidos, o
faturamento de bilheteria dos filmes estrangeiros foi muito maior do que o dos
filmes brasileiros, 6,91 vezes mais.
Os
números acima se referem ao total de filmes exibidos, sejam brasileiros,
estrangeiros ou em conjunto. No entanto, um indicador importante para entender
a dinâmica do mercado de exibição diz respeito ao número de filmes lançados em cada
ano. Assim, ao olharmos para esses números, temos um quadro que traz
informações negativas e positivas. Vamos a elas!
Em
primeiro lugar, o número de filmes brasileiros lançados em 2019 foi menor do
que os lançamentos de 2018. Uma queda de 43,41%! Em 2019, esse número foi de
129 lançamentos, enquanto que, em 2018, foram 185. Este fato representa uma
quebra na tendência de crescimento constante np número de lançamentos
brasileiros desde 2015. Difícil apontar as razões desse decréscimo, mas não
podemos deixar de registrar a polêmica de cancelamento do lançamento do
Marighela que, após muita discussão, será lançado em 2020.
Em
segundo lugar, o público dos filmes brasileiros lançados em 2019, também, foi
menor do que o alcançado em 2018. Nesse caso, houve uma queda de 4,09%,
baixando de 21.538.908 para 20.658.651 ingressos vendidos.
O
dado positivo é que a renda de bilheteria dos lançamentos brasileiros, no entanto,
cresceu 9,26% em 2019, atingindo R$ 277.706.249,00. Esse valor representou
10,50% da bilheteria total dos lançamentos nacionais e estrangeiros de 2019. Ao
mesmo tempo, o público de 2019 dos lançamentos brasileiros representou 12,37%
do total de públicos dos lançamentos do ano passado.
Mesmo
com o crescimento da bilheteria dos lançamentos nacionais em, 2019, o número de
filmes brasileiros entre os 50 de maior renda no ano passado foi apenas oito!
Quando verificamos as dez maiores bilheterias de 2019, entre os lançamentos, há
apenas um brasileiro.
Os
dados disponibilizados pelo OCA não indicam as produtoras dos lançamentos
brasileiros, nem, tampouco, os estados de origem dos filmes. Todavia, há
informação sobre as distribuidoras que atuaram nesse mercado. Assim, podemos
observar que o mercado de lançamentos de filmes brasileiros nas salas de cinema
é dominado por duas empresas que atuam nesse mercado de forma isolada e em aliança
estratégica. Em 2019, a Paris e a Dowtown obtiveram 74,67% da renda de
bilheteria dos lançamentos nacionais, da seguinte forma: Paris, com seis filmes
e R$ 109.094.684,00; Dowtown, com quatro filmes e R$ 40.536.448,00; e a
codistribuição Downtown/Paris, com dois filmes e R$ 57.721.783. Um mercado
altamente concentrado, em que mais 45 empresas dividem 25% do mercado!
Aliás,
se você quiser conhecer um pouco mais desse mercado, abordei com alguns
pesquisadores diferentes aspectos desse mercado em três artigos recentemente:
a) A competição na distribuição do cinema brasileiro de 1995 a 2017 (http://www.relici.org.br/index.php/relici/article/view/221);
b) A presença do filme nacional nas salas de cinema do Brasil: um estudo sobre
a codistribuição (http://200.144.145.24/galaxia/article/view/30963);
e c) Mapeando as relações de coprodução e codistribuição no cinema brasileiro:
uma análise pela ótica da teoria de redes (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1809-58442018000100041&script=sci_arttext)
Na
tabela são demonstrados os dados dos 20 filmes brasileiros, lançados em 2019,
com maior bilheteria. Como se pode ver, oito filmes (40%) foram distribuídos
por estas duas empresas, inclusive, os cinco de maior bilheteria.
Título da Obra
|
Distribuidoras
|
Público
|
Renda (R$)
|
Nada a perder 2
|
Paris
|
6.193.133
|
59.787.580
|
De pernas pro ar 3
|
Downtown/Paris
|
3.590.714
|
55.927.426
|
Minha mãe é uma peça 3
|
Downtown
|
2.422.254
|
38.037.507
|
Turma da mônica - laços
|
Paris
|
2.128.448
|
30.422.828
|
Os parças 2
|
Paris
|
1.308.089
|
18.535.690
|
Vai que cola 2 - o começo
|
H2O Films
|
804.535
|
11.907.658
|
Kardec
|
Sony
|
749.599
|
11.854.147
|
Bacurau
|
Vitrine Filmes
|
735.191
|
11.284.729
|
Sai de baixo, o filme
|
Imagem
|
470.100
|
6.935.700
|
Divaldo – o mensageiro da paz
|
Disney
|
430.704
|
6.807.617
|
Cinderela pop
|
Disney/Vitrine Filmes
|
477.488
|
6.441.968
|
Ela disse, ele disse
|
Imagem
|
241.418
|
3.412.254
|
A vida invisível
|
Sony
|
117.222
|
2.010.086
|
Hebe - a estrela do brasil
|
Warner
|
117.058
|
1.986.774
|
Minha fama de mau
|
Downtown/Paris
|
110.857
|
1.794.357
|
Eu sou mais eu
|
Imagem
|
126.874
|
1.706.441
|
Chorar de rir
|
Warner
|
82.715
|
1.250.625
|
Simonal
|
Downtown
|
65.629
|
1.190.012
|
O amor dá trabalho
|
Downtown
|
58.666
|
912.017
|