domingo, 5 de junho de 2016

A economia do cinema no Brasil: análise do comportamento de alguns setores de atividades entre 2009 e 2014

Já tive a oportunidade de comentar sobre a evolução do número de filmes brasileiros lançados no mercado exibidor nacional nos últimos vinte anos em outro post desse blog. Recentemente, me envolvi em um estudo sobre a economia da cultura no Brasil. A partir de dados disponibilizados pelo SEBRAE em uma plataforma online (www.datasebrae.com.br) busquei informações sobre o número de empresas classificadas por porte em inúmeras atividades empresariais relacionadas ao campo da cultura (cinema, teatro, dança, música, literatura, entre outros). Entre quase 80 atividades empresariais,dezessete estão relacionadas ao mercado do cinema. As informações cobrem o período de 2009 a 2014.

Nesse mesmo período, o número de filmes brasileiros lançados no cinema cresceu quase 37%, passando de 84 em 2009 para 114 em 2014. Em 2013, atingiu-se um ápice de 129 filmes de longa metragem novos lançados para exibição nas salas de cinema. A queda de 2014, foi recuperada em 2015, quando 128 novos filmes brasileiros entraram em exibição. Esse desempenho favorável tem repercutido em quase todas as atividades empresarias com dados disponíveis na plataforma do SEBRAE, cuja fonte é a Receita Federal do Brasil. Os dados referem-se ao número de empresas matrizes dos diferentes setores.

O conjunto de atividades empresariais que foi analisado envolve praticamente toda a cadeia da atividade cinematográfica. Vai desde os serviços necessários para a produção cinematográfica, passa pela distribuição e exibição, e chega ao comércio atacadista e varejista. Estão incluídas, também, algumas atividades de fabricação de equipamentos e insumos necessários para a realização de filmes. Elas estão apresentadas na tabela a seguir.

Atividade empresarial
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Crescimento (%)
Aluguel de fitas de vídeo, DVDs e similares
5419
6335
6352
6353
6275
6635
22,44
Atividades de exibição cinematográfica
434
485
504
507
497
520
19,82
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
1303
1755
3444
6022
8667
11312
768,15
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
4758
5880
6739
7321
7830
8632
81,42
Comércio atacadista de filmes, CDs, DVDs, fitas e discos
273
287
272
269
258
274
0,37
Comércio varejista de artigos fotográficos e para filmagem
4958
5920
6365
6827
7362
8080
62,97
Comércio varejista de discos, CDs, DVDs e fitas
3006
3997
4898
5556
6075
6820
126,88
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de televisão
354
361
335
310
310
336
-5,08
Estúdios cinematográficos
480
670
761
810
851
960
100,00
Fabricação de aparelhos de recepção, reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo
345
389
433
420
421
449
30,14
Fabricação de aparelhos fotográficos e cinematográficos, peças e acessórios
34
39
40
38
38
38
11,76
Fabricação de mídias virgens, magnéticas e ópticas
5
6
10
10
11
13
160,00
Laboratórios fotográficos
1047
1177
1246
1276
1305
1422
35,82
Reprodução de vídeo em qualquer suporte
128
125
118
127
115
117
-8,59
Serviços de dublagem
14
23
72
178
261
382
2628,57
Serviços de mixagem sonora em produção audiovisual
360
408
431
454
467
485
34,72

Entre as atividades de serviços, o maior crescimento foi o de serviços de dublagem que passou de 14 empresas em 2009 para 382 em 2014, um crescimento de 2.628%. As atividades de pós-produção também tiveram um crescimento muito elevado, que passou de 768% no período atingindo mais de 11.300 empresas envolvidas nesta atividade em 2014. O número de estúdios cinematográficos dobrou no período, passando de 480 em 2009 para 960 em 2014. Ao mesmo tempo, as empresas envolvidas com a produção cinematográfica apresentaram um crescimento superior a 80% no período. Os serviços de laboratório fotográfico acompanharam este crescimento, mas a uma taxa bem menor, perto de 36%. Os serviços de mixagem sonora também tiveram um aumento semelhante ao dos laboratórios.

O desempenho na chamada primeira janela, as salas de exibição, embora positivo, não foi tão elevado. Chegou a perto de 20% o crescimento no número de empresas nessa atividade empresarial. Por outro lado, as empresas de distribuição, tiveram uma queda de 5% em seu número, o que pode ser indicativo de um pequeno movimento de concentração nesse setor. No entanto, em 2014, o número de distribuidoras elevou-se um pouco em comparação a 2012 e 2013, mas não foi suficiente para retornar ao nível de 2009.

Três atividades de manufatura foram identificadas neste levantamento. Todas tiveram um crescimento no período, embora este tenha variado. A fabricação de mídias virgens, magnéticas e óticas foi a que mais cresceu, 160%.

Por fim, o comércio varejista de produtos relacionados ao mercado cinematográfico teve taxas de crescimento positivas, entre 60 e 130%, mas o comércio atacadista manteve-se estável em termos de número de empresas. Aparentemente, as empresas que atuam no atacado desses produtos dão conta de atender a um crescente número de varejistas. 

Essas informações são consistentes com o crescimento da produção de cinema no Brasil, bem como com o número de espectadores em salas de cinema, que tem mantido uma tendência de crescimento nos últimos anos.