sábado, 24 de dezembro de 2016

Filmes brasileiros com mais de 500 mil espectadores

Entre 1970 e 2015, 486 filmes brasileiro tiveram mais de 500 mil espectadores nas salas de cinema. Nesse ano, até a primeira semana de dezembro, completando 48 semanas de exibição no ano, mais nove filmes conseguiram superar essa marca.
Nesse conjunto, apenas três filmes superaram a marca de 10 milhões de espectadores: Os dez mandamentos - o filme de Alexandre Avancini lançado em 2016 com 11.305,479 espectadores; Tropa de elite 2 de José Padilha com público de 11.146.723 em 2010; e Dona Flor e seus dois maridos, sucesso de 1976, dirigido por Bruno Barreto, que atingiu 10.735.524 espectadores.
Ao analisarmos o desempenho dos filmes brasileiros nesse 47 anos, observa-se que a década dos anos 70 foi a de maior sucesso para os filmes brasileiros. Entre 1970 e 1979, foram 244 filmes com mais de 500 mil ingressos vendidos, totalizando um público de quase 294 milhões.
Na década seguinte, o número de filmes com público acima dessa marca foi bem menor, 118. Estes obtiveram um público total de 176,7 milhões entre 1980 e 1989.
Nos anos 90, marcados pela crise dos anos do governo Collor entre 1990 e 1992 e a posterior Retomada do Cinema Brasileiro, a partir de 1995, o número de filmes caiu para apenas cinco filmes entre 1990 e 1991, e outros doze filmes entre os anos de 1995 a 1999. No conjunto, os dezessete filmes foram vistos por 24,4 milhões de pessoas. Ou seja, 8,3% do público dos anos 90 e 13,8% dos da década anterior.
O ritmo da Retomada continuou na primeira década dos anos 2000. Entre 2000 e 2009, foram 55 filmes com público maior que 500 mil espectadores. Estes foram vistos por 93,3 milhões de pessoas, quase quatro vezes a marca dos anos 90.
O crescimento continuou nos últimos sete anos. Desde 2010 até a primeira semana de dezembro de 2016, 61 filmes conseguiram superar a marca de 500 mil ingresso vendidos. Isso equivale a uma média de 8,6 filmes por ano. Na primeira década do século 21 esta média foi de 5,5 filmes por ano. No entanto, os números dos últimos sete anos ainda estão muito abaixo daqueles conseguidos nos anos 70, quando o número médio de filmes com mais de 500 mil espectadores foi de 24,4 ao ano com público médio anual de 29,4 milhões. No que diz respeito ao público desse filmes entre 2010 e 2016, a quantidade atingiu a marca de 128 milhões de espectadores, com média anual de 18,3 milhões. Este resultado equivale a 62,2% da média anual dos anos 70. Será que os próximos três anos levarão esse resultado próximo dos números da década de 70? É pouco provável.
No entanto, pode ser que a segunda década do século 21 se aproxime muito dos números obtidos nos anos 80. Em termos de média anual, naquela década foram 11,8 filmes com público de 17,7 milhões, ao passo que o último período teve uma média de 8,7 filmes por ano, mas com público anual médio superior, chegando a 18,4 milhões. Em janeiro, quando os número de 2016 estiverem completos, atualizarei este post.

Período
Filmes
Média Anual
Público
Média Anual
1970-1979
244
24,4
293.661.323
29.366.132
1980-1989
118
11,8
176.745.686
17.674.569
1990-1999
17
1,7
24.375.158
2.437.516
2000-2009
55
5,5
93.157.836
9.315.784
2010-2016
61
8,7
128.612.155
18.373.165
Total
495
10,5
716.552.158
15.245.791

domingo, 27 de novembro de 2016

A Volta ao Mundo do Cinema Brasileiro em 80 filmes: 4a – Limite de Mario Peixoto

Retomo essa viagem que comecei em julho de 2015. A intenção era, e continua sendo, assistir filme, ler texto, refletir, escrever; assistir, ler, refletir, escrever; assistir, ler, refletir, escrever... Uma vontade de conhecer mais sobre o cinema brasileiro, desde suas origens até os dias de hoje.
No ano passado, foram quatro destinos: O Padre e a Moça de Joaquim Pedro de Andrade (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html); Rio, 40 graus de Nelson Pereira dos Santos (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_22.html); Ganga Bruta de Humberto Mauro (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html); e Limite de Mario Peixoto (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_30.html). Retomo minha viagem com essa última parada.
Ontem revi essa obra-prima e única de Mario Peixoto. Mais uma vez fui arrebatado pela sua beleza. Na beleza do filme, Peixoto nos levou a refletir sobre os limites da vida humana e as suas possibilidades: Resignação ou persistência? Determinismo ou voluntarismo? Para Mello (2007) é uma tragédia cósmica sobre a derrota humana. Para Souza (2001), é um discurso sobre resistência e luta pela vida. Entre as opções, uma miríade de emoções brotam da experiência de assistir este que Machado (2010, p. 27) considera o marco inaugural do cinema experimental na América Latina. Um cinema que não se enquadra nos limites das classificações usuais: nem ficção, nem documentário.
Cinema na forma de arte. Cinema-poesia. No dizer de Santos (2011, p 22), o filme se organiza de forma poética, de maneira oposta aos discursos que a partir de Griffith passaram as narrativas cinematográficas. Esta distinção ´foi reforçada por Mello (2007, p. 39) Para ele, Limite não é um filme narrativo... o filme se constrói... no plano visual e rítmico... as imagens geradas pelo tema só têm sentido no ritmo dado pela montagem.
La Ferla (2008) apontou que o longa de Mario Peixoto está sendo objeto de um crescente número de estudos. A importância de Limite vai além da dimensão histórica. Segundo La Ferla (2008), além de surgir no começo do cinema brasileiro, Limite é importante também pela sua forma de criação audiovisual e encenação cinematográfica. Assim como Machado (2010), La Ferla ressalta as características de cinema experimental de Limite.
Enfim, aos 22 anos, Mario Peixoto deu concretude, de uma forma altamente abstrata, à ideia nascida em Paris no ano de 1929. Segundo informa Mello (2007), após uma situação de conflito com o pai, Peixoto sai e vê, em um quiosque a capa da revista Vu, número 74, que tem uma foto que mostra a cabeça de uma mulher, olhando para a frente, enlaçada por punhos masculinos algemados. Esta foto é representada nos momentos iniciais e finais do filme e sugere o tema de Limite. Para uns, como disse acima, de angústia, resignação, derrota ou desistência da luta da vida. Para outros, o contrário. O que lhe dirá o filme?

Resultado de imagem para limite filme

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Ficha técnica:
Limite, longa metragem, P/B. Produção, roteiro, direção e montagem: Mário Peixoto; Fotografia e câmera Edgar Brazil. Assistente geral: Rui Costa; Elenco: Olga Brenno, Taciana Rei, Raul Schnoor, Brutus Pedreira, Mario Peixoto, Carmem Santos; Trilha musical organizada com discos comuns,78 rotações, por Brutus Pedreira, com peças de Satie, Debussy, Borodin, Ravel, Stravinski, César Frank e Prokofiev. Filmado em Mangaratiba (RJ), 1931. Fonte: Santos (2011).

LA FERLA, Jorge Limite. Sinfonia do sentimento. Ars, v. 16, n. 12, p. 69-79, 2008.

MACHADO, Arlindo Pioneiros do vídeo e do cinema experimental na América Latina. Significação, n. 33, p. 21-40, 2010.

MELLO, Saulo Pereira Limite: Angústia. Alceu, v. 8, n 15, p 38-47, 2007.

SANTOS, Ney Costa Limite, um mundo sem Deus. Alceu, v. 11, n. 22, p. 194-200, 2011.


SOUZA, Tânia C. Clemente de Discurso e cinema: uma análise de Limite. Ciberlegenda, n. 4, p. 1-19, 2001.

domingo, 2 de outubro de 2016

Política de Fomento ao Cinema: anotações de leituras

Em meus estudos de cinema, faço leituras que se dividem em três focos. No primeiro, busco ler sobre o cinema enquanto arte e manifestação da cultura em geral. O segundo foco está centrado no entendimento dos aspectos industriais, quando leio textos sobre produção, distribuição ou exibição e práticas organizacionais nesses campos de atuação cinematográfica. Por fim, há o tema do apoio governamental à arte e indústria do cinema. Neste post, apresento uma breve descrição de alguns pontos que encontrei em cinco leituras sobre esse último foco. quatro tratam exclusivamente de ações do governo brasileiro nesse campo. Por mera coincidência, acabam trazendo, no seu conjunto, um panorama histórico, ainda que incompleto, desde a década de 30 até os dias atuais. A última leitura apresenta comparativo das indústrias cinematográficas de Brasil, Argentina e México e ao final sugere políticas intergovernamentais, salientando a relevância de cooperação latino-americana nesse setor para desenvolvimento da arte e indústria da chamada imagem em movimento..
 Almeida (1999) analisou a relação entre os produtores cinematográficos brasileiros e o Estado na criação de órgãos de incentivo e proteção ao cinema nacional. Com base nas experiências de utilização do cinema como instrumento de educação e propaganda na Alemanha, Itália e URSS, os produtores brasileiros conseguiram de Getúlio Vargas, durante o Estado Novo (1937-1945), a edição do decreto-lei nº 21.240, de quatro de abril de 1932 que determinava a redução das tarifas alfandegárias para filmes virgens e impressos, a nacionalização da censura e a criação de três novas instituições culturais: a Revista Nacional de Educação, o Instituto Cinematográfico Educativo, e um “órgão técnico, destinado não só a orientar a utilização do cinematógrafo, assim como dos demais processos técnicos, que sirvam como instrumentos de difusão cultural” (ALMEIDA, 1999, p. 122).
Mais tarde, em 1934, com a criação do Departamento de Propaganda e Difusão Cultura (DPDC)l, segundo Almeida (1999), os produtores conseguiram o estabelecimento de estímulos à produção e distribuição do cinema brasileiro. No entanto, o próprio DPDC, a partir de 1938, passa a produzir o Cinejornal Brasileiro, que iria disputar com os produtores nacionais o espaço obrigatório de apresentação de curtas nacionais nas salas brasileiras (ALMEIDA, 1999, p. 127). Assim, embora tenham sido criados mecanismos de apoio ao cinema nacional, seus produtores não conseguiram fazer uso pleno dos mesmos naqueles anos.
Amâncio (2007) apresenta um breve histórico da atuação da Embrafilme no que considerou um pacto cinema-estado que articulou interesses desenvolvimentistas do governo militar nos anos 70, embora com ênfase exportadora, com a defesa e promoção da atividade de produção e distribuição do cinema brasileiro. Tendo seu período mais forte até o final da década de 70, nos anos 80 a empresa enfrentaria a crise econômica o que acarretou a diluição do crescimento, culminado no começo dos anos 90 com a extinção da empresa e de todo o aparato construído nas duas décadas anteriores de fomento ao cinema brasileiro.
O período entre a extinção da Embrafilme e a criação da ANCINE, em 2002, recebeu comentários de Estevinho (2009). No texto, o autor lembra que, em setembro de 1999, foi constituído o GEDIC – Grupo Executivo da Indústria Cinematográfica, composto por representantes de alguns ministérios, representantes das emissoras de televisão e cineastas. Fruto das discussões desse grupo, surgirá em 2002, a ANCINE, que retomaria “as ambições desenvolvimentistas que atravessaram a história do cinema brasileiro desde o final dos anos 1960” (ESTEVINHO, 2009, p. 127), embora houvesse um conflito entre um grupo que enfatizava a vinculação da indústria cinematográfica com a indústria da TV e outro que ressaltava os aspectos culturais da arte do cinema e valorizava sua autonomia, cabendo ao Estado um papel de viabilizador dessa atividade cultural. Segundo Estevinho (2009, p. 128), a ANCINE foi criada reforçando a posição do segundo grupo com objetivos bem delimitados “fomento à produção e regulação do mercado audiovisual com a construção de uma indústria cinematográfica autossustentável no país”.
O impacto da Lei 12.485/2011 sobre a produção audiovisual brasileira, a chamada Lei da TV Paga, é analisada por Costa (2015). Em seu texto, a autora argumenta que
“a lei tem, em parte, conseguido atingir seu objetivo de aumentar a penetração da TV paga no Brasil, provocando uma formação de mercado interno que poderá ser um trunfo para a produção independente. Para o cinema independente, a medida provou-se favorável. No entanto, não é possível mensurar, ainda, os efeitos reais sobre a dinamização e diversificação do mercado (operadores, tipos de produtos e quantidade) (p. 378).
Simis (2015) faz análise comparativa das indústrias cinematográficas no Brasil, Argentina e México que passaram por crises semelhantes com queda de produção, público e presença dos seus cinemas nacionais nas salas de cinema, além de transformação no mercado exibidor com o surgimento dos multiplex. Ao apontar as transformações que o setor cinematográfico sofreu entre os anos 80 e 90, com reflexos que são sentidos atualmente, a autora observa que a baixa presença da cinematografia nacional desses países em seus mercados exibidores reflete uma mudança radical na forma de exploração do filme. Esta mudança se associa ao surgimento do que a autora denomina neoliberalismo extremo do comércio cinematográfico, em que
houve um processo de desmantelamento do esquema tradicional de exibição, onde de alguma forma o cinema nacional tinha algum espaço para ser produzido e visto, e por outro lado um aumento constante no número atual de salas, mas sem nenhum vínculo com a produção de filmes nacional (p. 69).
Assim, as práticas de exibição no mercado cinematográfico passaram do que a autora chama de uma exploração em profundidade para uma de exploração em extensão. A primeira forma passava por uma sequência de salas começando “nas salas dos cinemas das metrópoles do Primeiro Mundo, seguida das salas no centro das grandes cidades dos países periféricos, e depois, para as salas situadas nos bairros e cidades do interior” (p.71). Enquanto que a exploração em extensão se relaciona com a utilização simultânea de um grande número de salas, acompanhada de um intenso esforço de publicidade. Isto segundo a autora, “dificulta a inserção do filme local, cujo marketing se resume muitas vezes ao boca a boca” (p. 71). Ao final do texto, a autora sugere a necessidade de políticas intergovernamentais como parte de esforços de revisão da forma de organização da indústria cinematográfica nesses países com ênfase na distribuição e exibição.

Referências

ALMEIDA, C. A. O cinema brasileiro no estado novo: o diálogo com a Itália, Alemanha e URSS. Revista de Sociologia e Política, n. 12. P; 121-129, 1999.

AMÂNCIO, TUNICO Pacto cinema-Estado: os anos Embrafilme. Alceu, v. 8, n. 15, p. 173-184, 2007.

COSTA, MANNUELA RAMOS DA Cinema, ao fim e ao cabo. Primeiras impressões sobre o impacto da Lei 12.485/2011, a Lei da TV paga, no Brasil. Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, v.4, n. 7, p. 356-380, 2015.

ESTEVINHO, TELMO ANTONIO DINELLI Cinema e política no Brasil: os anos da retomada. Aurora, n. 5, p. 120-130, 2009.


SIMIS, ANITA Economia política do cinema: a exibição cinematográfica na Argentina, Brasil e México. Versión Estudios de Comunicación y Política, n. 36, p. 54-75, 2015.

sábado, 24 de setembro de 2016

A chanchada no cinema brasileiro

Neste pequeno livro de 1983, Afrânio M. Catani e José I. de Melo Souza fazem uma incursão pela história do cinema brasileiro para narrar um período marcante de aproximação do cinema nacional com o povo brasileiro.
Concordando com Jean-Claude Bernadet, os autores afirmam que a primeira fase da chanchada brasileira se associa com alguns filmes cômicos dos anos 10 e 20 do cinema brasileiro. A segunda fase, para eles, começa em 1929, com a realização de Acabaram-se os otários  de Luiz de Barros. Situam o início da terceira fase entre 1944 e 1945 com os filmes carnavalescos Tristezas não pagam dívidas (1944) e Não adianta chorar (1945). É nesse período que surge a Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S/A. Por fim, uma quarta e última fase das chanchadas brasileiras, segundo Catani e Melo Souza se dá a partir de 1949 até o começo dos anos 60, com os filmes de critica social, especialmente na produção da Vera Cruz (p. 9-10).
Ao final do livro, comentam que foi graças às chanchadas e à receptividade junto ao grande público que o cinema brasileiro conseguiu sobreviver, apesar da enorme concorrência estrangeira. Mas, apenas sobreviver.... no auge das chanchadas - na primeira metade dos anos 50 - o cinema brasileiro ocupava somente 6% do mercado exibidor (p. 88).
Interessado que sou no entendimento da indústria do cinema brasileiro, procurei registrar uma pequena cronologia com alguns dados que surgem ao longo do livro:
a) 1930 – Cinédia é fundada por Ademar Gonzaga, em 16 de março (p. 25);
b) 1933 – Carmem Santos, atriz que atuava no cinema brasileiro desde 1919, fundou a Brasil Vita Filmes (p. 26);
c) 1934 - Obrigatoriedade do complemento nacional nas programações (p. 16 -17). Decreto 24.651 amparava e estimulava a produção de “filmes educativos” (p. 27);
d) 1935 – Wallace Downey criou a Waldow Filmes S/A (p. 26). Alô, Alô Brasil produção de Downey teve 124 dias de exibição (p. 33);
e) 1939 - Wallace Downey criou a Sonofilmes (p. 26);
f) 1939 – Fracasso da Empresa Sul Americana de Filmes (p. 26);
g) Durante a Segunda Guerra – Decreto (?) cria o Conselho Nacional de Cinema que raramente funcionou (p. 35);
h) 1941 – Criação da Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S/A em 16 de setembro (p. 36);
i) 1943 – Moleque Tião, primeiro filme da Atlântida, com Grande Otelo, exibido por 132 dias em São Paulo (p. 39-40). Tristezas não pagam dívidas, lançado no Rio, ficou 139 dias em cartaz (p. 42);
j) 1941 a 1947 – Consolidação da Atlântida como maior produtora do Brasil com estratégia em duas linhas complementares: chanchadas e fitas “socializantes” (p. 45); Segundo os autores, essa estratégia fez com que os filmes da empresa permanecessem anunciados em alguns cinemas dos grandes centros durante todo o ano, embora com minguados lucros (p. 46) devido a fraudes nos informes das salas exibidoras;
k) 1947 – Aumento do número de produtores e produções: Cinegráfica São Luiz, Cinelândia Filmes, Tapuia; truste exibidor de Luis Severiano Ribeiro Jr torna-se produtor que anteriormente comprara cotas da Distribuidora de Filmes Brasileiros (DFB) e da Distribuidora Nacional (DN) (p. 50). Coligada: União Cinematográfica Brasileira (UCE). Severiano torna-se acionista majoritário da Atlântida (p. 52);
l) 1949 – Em 03 de novembro foi criada a Companhia Cinematográfica Vera Cruz (p. 57). Em sua esteira surgiram a Maristela, Multifilmes e mais 40 ou 50 produtoras independentes (p. 57-58);
m) 1950 – Implantação da televisão no Brasil; Termina a década com 600.000 aparelhos instalados. (p. 63);
n) 1952 – Eliana Macedo acompanha o tio Watson Macedo e vai trabalhar na Watson Macedo Produções Cinematográficas (p. 47);
o) Entre 1947 e 1962 – com Severiano no comando da Atlântida, e atuando na produção, distribuição e exibição, foram lançadas dezenas de filmes (entre 40 e 80, dependendo da fonte) (p. 65).


Catani, Afrânio Mendes; Souza, José Inácio de Melo Souza A chanchada no cinema brasileiro. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983, 99p.

sábado, 13 de agosto de 2016

Economia política do cinema: uma leitura necessária

Anita Simis apresenta uma contribuição altamente relevante para se entender a situação dos mercados exibidores de cinema no Brasil, Argentina e México, em texto publicado ao final de 2015 no periódico Versión Estudios de Comunicación y Política.
Simis faz análise comparativa das indústrias cinematográfica desses países que passaram por crises semelhantes com queda de produção, público e presença dos seus cinema nacionais na salas de cinema, além de transformação no mercado exibidor com o surgimento dos multiplex.
Ao apontar as transformações que o setor cinematográfico sofreu entre os anos 80 e 90, com reflexos que são sentidos atualmente, a autora aponta que a baixa presença da cinematografia nacional desses países em seus mercados exibidores reflete uma mudança radical na forma de exploração do filme. Esta mudança se associa ao surgimento do que a autora denomina neoliberalismo extremo do comércio cinematográfico, em que "houve um processo de desmantelamento do esquema tradicional de exibição, onde de alguma forma o cinema nacional tinha algum espaço para ser produzido e visto, e por outro lado um aumento constante no número atual de salas, mas sem nenhum vínculo com a produção de filmes nacional" (p. 69).
Assim, as práticas de exibição no mercado cinematográfico passaram da “exploração do filme - em profundidade - ou seja,... primeiramente nas salas dos cinemas das metrópoles do Primeiro Mundo, seguida das salas no centro das grandes cidades dos países periféricos, e depois, para as salas situadas nos bairros e cidades do interior... [para] a exploração em extensão, isto é, a exibição em um grande número de salas simultaneamente, com uma publicidade acirrada e que dificulta a inserção do filme local, cujo marketing se resume muitas vezes ao boca a boca” (p. 71, grifos meu).
Ao final do texto, a autora sugere a necessidade de políticas intergovernamentais como parte de esforços de revisão da forma de organização da indústria cinematográfica nesses países com ênfase na distribuição e exibição.
Uma leitura que se impõe àqueles que desejam compreender a indústria cinematográfica brasileira sob a perspectiva de uma economia política do cinema.

SIMIS, Anita Economia política do cinema: a exibição cinematográfica na Argentina, Brasil e México. Version Estudios de Comunicación y Política, n. 36, p. 54-75, 2015.
Disponível em http://bidi.xoc.uam.mx/resumen_articulo.php?id=10284&archivo=7-710-10284wey.pdf&titulo_articulo=Economia%20pol%C3%ADtica%20do%20cinema:%20a%20exibi%C3%A7%C3%A3o%20cinematogr%C3%A1fica%20na%20Argentina,%20Brasil%20e%20M%C3%A9xico

domingo, 5 de junho de 2016

A economia do cinema no Brasil: análise do comportamento de alguns setores de atividades entre 2009 e 2014

Já tive a oportunidade de comentar sobre a evolução do número de filmes brasileiros lançados no mercado exibidor nacional nos últimos vinte anos em outro post desse blog. Recentemente, me envolvi em um estudo sobre a economia da cultura no Brasil. A partir de dados disponibilizados pelo SEBRAE em uma plataforma online (www.datasebrae.com.br) busquei informações sobre o número de empresas classificadas por porte em inúmeras atividades empresariais relacionadas ao campo da cultura (cinema, teatro, dança, música, literatura, entre outros). Entre quase 80 atividades empresariais,dezessete estão relacionadas ao mercado do cinema. As informações cobrem o período de 2009 a 2014.

Nesse mesmo período, o número de filmes brasileiros lançados no cinema cresceu quase 37%, passando de 84 em 2009 para 114 em 2014. Em 2013, atingiu-se um ápice de 129 filmes de longa metragem novos lançados para exibição nas salas de cinema. A queda de 2014, foi recuperada em 2015, quando 128 novos filmes brasileiros entraram em exibição. Esse desempenho favorável tem repercutido em quase todas as atividades empresarias com dados disponíveis na plataforma do SEBRAE, cuja fonte é a Receita Federal do Brasil. Os dados referem-se ao número de empresas matrizes dos diferentes setores.

O conjunto de atividades empresariais que foi analisado envolve praticamente toda a cadeia da atividade cinematográfica. Vai desde os serviços necessários para a produção cinematográfica, passa pela distribuição e exibição, e chega ao comércio atacadista e varejista. Estão incluídas, também, algumas atividades de fabricação de equipamentos e insumos necessários para a realização de filmes. Elas estão apresentadas na tabela a seguir.

Atividade empresarial
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Crescimento (%)
Aluguel de fitas de vídeo, DVDs e similares
5419
6335
6352
6353
6275
6635
22,44
Atividades de exibição cinematográfica
434
485
504
507
497
520
19,82
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
1303
1755
3444
6022
8667
11312
768,15
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão
4758
5880
6739
7321
7830
8632
81,42
Comércio atacadista de filmes, CDs, DVDs, fitas e discos
273
287
272
269
258
274
0,37
Comércio varejista de artigos fotográficos e para filmagem
4958
5920
6365
6827
7362
8080
62,97
Comércio varejista de discos, CDs, DVDs e fitas
3006
3997
4898
5556
6075
6820
126,88
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de televisão
354
361
335
310
310
336
-5,08
Estúdios cinematográficos
480
670
761
810
851
960
100,00
Fabricação de aparelhos de recepção, reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo
345
389
433
420
421
449
30,14
Fabricação de aparelhos fotográficos e cinematográficos, peças e acessórios
34
39
40
38
38
38
11,76
Fabricação de mídias virgens, magnéticas e ópticas
5
6
10
10
11
13
160,00
Laboratórios fotográficos
1047
1177
1246
1276
1305
1422
35,82
Reprodução de vídeo em qualquer suporte
128
125
118
127
115
117
-8,59
Serviços de dublagem
14
23
72
178
261
382
2628,57
Serviços de mixagem sonora em produção audiovisual
360
408
431
454
467
485
34,72

Entre as atividades de serviços, o maior crescimento foi o de serviços de dublagem que passou de 14 empresas em 2009 para 382 em 2014, um crescimento de 2.628%. As atividades de pós-produção também tiveram um crescimento muito elevado, que passou de 768% no período atingindo mais de 11.300 empresas envolvidas nesta atividade em 2014. O número de estúdios cinematográficos dobrou no período, passando de 480 em 2009 para 960 em 2014. Ao mesmo tempo, as empresas envolvidas com a produção cinematográfica apresentaram um crescimento superior a 80% no período. Os serviços de laboratório fotográfico acompanharam este crescimento, mas a uma taxa bem menor, perto de 36%. Os serviços de mixagem sonora também tiveram um aumento semelhante ao dos laboratórios.

O desempenho na chamada primeira janela, as salas de exibição, embora positivo, não foi tão elevado. Chegou a perto de 20% o crescimento no número de empresas nessa atividade empresarial. Por outro lado, as empresas de distribuição, tiveram uma queda de 5% em seu número, o que pode ser indicativo de um pequeno movimento de concentração nesse setor. No entanto, em 2014, o número de distribuidoras elevou-se um pouco em comparação a 2012 e 2013, mas não foi suficiente para retornar ao nível de 2009.

Três atividades de manufatura foram identificadas neste levantamento. Todas tiveram um crescimento no período, embora este tenha variado. A fabricação de mídias virgens, magnéticas e óticas foi a que mais cresceu, 160%.

Por fim, o comércio varejista de produtos relacionados ao mercado cinematográfico teve taxas de crescimento positivas, entre 60 e 130%, mas o comércio atacadista manteve-se estável em termos de número de empresas. Aparentemente, as empresas que atuam no atacado desses produtos dão conta de atender a um crescente número de varejistas. 

Essas informações são consistentes com o crescimento da produção de cinema no Brasil, bem como com o número de espectadores em salas de cinema, que tem mantido uma tendência de crescimento nos últimos anos.