sábado, 28 de agosto de 2021

A volta ao mundo do cinema brasileiro em 80 filmes 14: Nao por acaso de Philippe Barcinski

Ontem estava, no começo da noite, sem saber o que fazer. Sexta-feira, assistia a um canal de notícias. Notícias repetidas com comentários repetitivos. A cada hora mudavam os comentaristas. Mas, não o teor e tom dos comentários.
Zapeei, então pelos canais. Em busca de coisa melhor para assistir. Poderia ler, mas a cabeça não estava inclinada para isso. Ao acaso, em um deles, vi que "Não por acaso", filme brasileiro começaria em cinco minutos. Pressionei o botão vermelho do controle remoto que revelou informações sobre o filme. Após ler a breve sinopse, me lembrei que já assistira ao filme. Pouco me lembrava do enredo. Mas, na memória me veio a emoção das sequências finais do filme. Decidi revê-lo. Edra me acompanhou.
A tensão constante entre o acaso e o intencionado faz parte da trama do filme. Entre a precisão dos traçados da vida e suas surpresas inesperadas, decorre a vida das personagens. Da diferença entre o plano precisamente deliberado e a emergência do imprevisto surge a demanda de decisões não previamente pensadas. Um eterno conflito entre o desejo de controle total e sua impossibilidade.
É um filme belíssimo em que se nota a precisão da direção e do roteiro. Nada é por acaso no filme de 2007 dirigido e roteirizado por Philippe Barcinski e com belas atuações de Leonardo Medeiros, Letícia Sabatela, Rodrigo Santoro, Cassia Kiss, entre outros.
O filme é magistralmente construído e fotografado. Um todo composto por um emaranhado de sentimentos que surgem a partir de encontros, desencontros, partidas e descobertas que têm como cenário principal as ruas de São Paulo e suas inúmeras esquinas. Junto com os personagens passeei por São Paulo e revi locais em que já estive nas minhas passagens por lá.
É justamente em uma dessas ruas que se revela um flash back contado sem nenhuma chance do espectador ou da espectadora antecipar sua natureza. Depois de uma narrativa em que conhecemos a história e a trama em que está envolvido Ênio, personagem central interpretado por Leonardo Medeiros, surge um casal vivido por Rodrigo Santoro e Branca Messina, Pedro e Teresa. Uma sequência de apresentação de personagens e nova trama. Assim como Ênio, Pedro se revela obcecado por controle.
Mas, qual a ligação com a trama anterior? Me indagava. Apesar de ter assistido ao filme anteriormente, nada me ocorria. De repente, um acidente em uma das ruas, triste acaso, liga as personagens. E, não por acaso, mas por escolha do diretor e roteirista, esta conexão nos foi apresentada na forma de insuspeito flash back. Brilhante montagem!
No começo da noite de uma sexta-feira, por escolha própria, com o domínio do controle remoto, percorri canais em que sabia poder encontrar algo que me interessasse. Por acaso, surgiu este filme no momento certo. Muito melhor do que ver os comentaristas diversos com seus comentários, nada por acaso, repetitivos. Nesse grande filme, mais uma vez, senti a força da tensão entre o planejado e o emergente. O controle e sua falta. E dessa força me surgiu a dúvida: ao se completar "Não por acaso", no corte final, o que estava no roteiro e o que foi fruto do acaso durante as filmagens? Afinal, o plano do roteiro sempre colide com os acasos da filmagem.
Ficha técnica:
Não Por Acaso
2007
Diretor e roteirista: Philippe Barcinski
Música composta por: Ed Côrtes
Elenco: Rodrigo Santoro (Pedro); Letícia Sabatella (Lúcia); Leonardo Medeiros (Ênio);
Branca Messina lTeresa); Rita Batata (Bia); Cássia Kis (Iolanda); Graziella Moretto (Mônica).

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Meus estudos no campo do cinema

Comecei este blog, anos atrás, quando estava fazendo uma especialização em cinema. Além das reflexões que as disciplinas me inspiravam, publiquei muitos textos e informações sobre o campo do audiovisual no Brasil e fora dele. Nos últimos meses, este blog ficou meio abandonado. Mas, meus estudos no campo continuaram. Neste post, relaciono os artigos que publiquei, em conjunto com alguns colegas ou de forma isolada ao longo dos últimos seis anos.

O primeiro artigo, escrito em parceria com Daniela Torres da Rocha e Fabiano Luiz Xavier dos Santos foi "Vinte anos da retomada: dinâmica da concentração da produção e distribuição do filme brasileiro no mercado nacional". No artigo descrevemos a dinâmica da concentração da produção e distribuição de filmes no mercado cinematográfico brasileiro entre 1995 e 2014. Publicado na Revista EPTIC em 2015, pode ser acessado em (https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/4311/pdf).

Em 2016, uma reflexão sobre a pouca atenção dada ao mercado cinematográfico brasileiro pelos pesquisadores de estudos organizacionais foi publicado na Revista Interdisciplinar de Marketing. Sob o título "O mercado cinematográfico brasileiro: um campo pouco explorado pelos estudos organizacionais", o artigo pode ser acessado em https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rimar/article/view/26422.

No mesmo ano, em coautoria com Marcos Wagner da Fonseca, foi publicado " Evolução de público e renda nas salas de cinema no Brasil nos últimos sete anos". em um contexto de transformações no mercado exibidor, utilizamos dados disponíveis no site da ANCINE para apresentar a evolução do mercado exibidor brasileiro. O artigo está em http://www.relici.org.br/index.php/relici/article/view/97/118.

Em 2017, juntando meus estudos no campo do empreendedorismo ao interesse mais recente no cinema, junto com Daniela Torres da Rocha, apresentamos o caso de uma empresa nascente de produção audiovisual com sede em Curitiba, iniciativa de dois jovens. A publicação foi no International Journal of Innovation e teve como título: "Imagística: a case of youth entrepreneurship in a small film production firm". O texto integral do artigo se encontra em: https://periodicos.uninove.br/innovation/article/view/9814.

Em 2018, foram publicados mais dois artigos fruto de meus estudos no campo. Ainda em coautoria com Daniela Torres da Rocha, e a participação de Leandro Rodrigo Canto Bonfim e Michael William Citadin, mapemos e analisamos as interações sociais na produção e distribuição cinematográfica no Brasil, apresentando as relações em rede como forma de gestão dos atores econômicos atuantes na indústria brasileira de cinema. O artigo, publicado na Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, está disponível em https://www.scielo.br/j/interc/a/n9j9xndQWYTRvB73nWwkF8m/?lang=pt. O segundo artigo de 2018, teve a presença de Daniela Torres da Rocha como coautora mais uma vez.  Neste texto, analisamos as diferentes formas de atuação no mercado de codistribuição de filmes brasileiros entre 2009 e 2015. Publicado na Revista Galáxia, com o título "A presença do filme nacional nas salas de cinema do Brasil: um estudo sobre a codistribuição", o acesso ao texto se dá por este link: https://www.scielo.br/j/gal/a/8m95x4YJr7VgY9xPvK6zGSS/?lang=pt&format=pdf.

Por fim, em 2020 e 2021, publiquei mais dois estudos na Revista Livre de Cinema. Em ambos trato do tema da presença da mulher na atividade cinematográfica brasileira. No primeiro -  Fazer cinema no Brasil: a visão de diretoras brasileiras, tratei de aspectos da presença de mulheres na direção de filmes no mercado de cinema brasileiro, em termos de número de filmes, público e distribuição. Ainda, no mesmo artigo, apontei os temas que revelam o olhar feminino sobre a direção de cinema no Brasil. Acesso em http://relici.org.br/index.php/relici/article/view/313. O segundo, publicado ontem, trata de assunto correlato, em que apresento uma revisão de artigos brasileiros que investigaram a representação social das mulheres em filmes nacionais ou a sua representatividade na produção cinematográfica brasileira. Este tem por título "Representação e representatividade: estudos sobre a presença das mulheres na cinematografia brasileira" e está disponível em http://relici.org.br/index.php/relici/article/view/349.

Enfim, nesta trajetória acadêmica vou me (re)construindo, com temas que, às vezes, parecem tão distantes, mas com um olhar mais aproximado se descobre que não estão tão separados assim, Afinal, o cinema foi sempre um meio que me ajudou a fazer sentido desse mundo em que vivemos. E, meus estudos no campo do cinema, são apenas parte dessa tentativa de compreensão.