domingo, 27 de novembro de 2016

A Volta ao Mundo do Cinema Brasileiro em 80 filmes: 4a – Limite de Mario Peixoto

Retomo essa viagem que comecei em julho de 2015. A intenção era, e continua sendo, assistir filme, ler texto, refletir, escrever; assistir, ler, refletir, escrever; assistir, ler, refletir, escrever... Uma vontade de conhecer mais sobre o cinema brasileiro, desde suas origens até os dias de hoje.
No ano passado, foram quatro destinos: O Padre e a Moça de Joaquim Pedro de Andrade (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html); Rio, 40 graus de Nelson Pereira dos Santos (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_22.html); Ganga Bruta de Humberto Mauro (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html); e Limite de Mario Peixoto (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_30.html). Retomo minha viagem com essa última parada.
Ontem revi essa obra-prima e única de Mario Peixoto. Mais uma vez fui arrebatado pela sua beleza. Na beleza do filme, Peixoto nos levou a refletir sobre os limites da vida humana e as suas possibilidades: Resignação ou persistência? Determinismo ou voluntarismo? Para Mello (2007) é uma tragédia cósmica sobre a derrota humana. Para Souza (2001), é um discurso sobre resistência e luta pela vida. Entre as opções, uma miríade de emoções brotam da experiência de assistir este que Machado (2010, p. 27) considera o marco inaugural do cinema experimental na América Latina. Um cinema que não se enquadra nos limites das classificações usuais: nem ficção, nem documentário.
Cinema na forma de arte. Cinema-poesia. No dizer de Santos (2011, p 22), o filme se organiza de forma poética, de maneira oposta aos discursos que a partir de Griffith passaram as narrativas cinematográficas. Esta distinção ´foi reforçada por Mello (2007, p. 39) Para ele, Limite não é um filme narrativo... o filme se constrói... no plano visual e rítmico... as imagens geradas pelo tema só têm sentido no ritmo dado pela montagem.
La Ferla (2008) apontou que o longa de Mario Peixoto está sendo objeto de um crescente número de estudos. A importância de Limite vai além da dimensão histórica. Segundo La Ferla (2008), além de surgir no começo do cinema brasileiro, Limite é importante também pela sua forma de criação audiovisual e encenação cinematográfica. Assim como Machado (2010), La Ferla ressalta as características de cinema experimental de Limite.
Enfim, aos 22 anos, Mario Peixoto deu concretude, de uma forma altamente abstrata, à ideia nascida em Paris no ano de 1929. Segundo informa Mello (2007), após uma situação de conflito com o pai, Peixoto sai e vê, em um quiosque a capa da revista Vu, número 74, que tem uma foto que mostra a cabeça de uma mulher, olhando para a frente, enlaçada por punhos masculinos algemados. Esta foto é representada nos momentos iniciais e finais do filme e sugere o tema de Limite. Para uns, como disse acima, de angústia, resignação, derrota ou desistência da luta da vida. Para outros, o contrário. O que lhe dirá o filme?

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Ficha técnica:
Limite, longa metragem, P/B. Produção, roteiro, direção e montagem: Mário Peixoto; Fotografia e câmera Edgar Brazil. Assistente geral: Rui Costa; Elenco: Olga Brenno, Taciana Rei, Raul Schnoor, Brutus Pedreira, Mario Peixoto, Carmem Santos; Trilha musical organizada com discos comuns,78 rotações, por Brutus Pedreira, com peças de Satie, Debussy, Borodin, Ravel, Stravinski, César Frank e Prokofiev. Filmado em Mangaratiba (RJ), 1931. Fonte: Santos (2011).

LA FERLA, Jorge Limite. Sinfonia do sentimento. Ars, v. 16, n. 12, p. 69-79, 2008.

MACHADO, Arlindo Pioneiros do vídeo e do cinema experimental na América Latina. Significação, n. 33, p. 21-40, 2010.

MELLO, Saulo Pereira Limite: Angústia. Alceu, v. 8, n 15, p 38-47, 2007.

SANTOS, Ney Costa Limite, um mundo sem Deus. Alceu, v. 11, n. 22, p. 194-200, 2011.


SOUZA, Tânia C. Clemente de Discurso e cinema: uma análise de Limite. Ciberlegenda, n. 4, p. 1-19, 2001.