Retomo
essa viagem que comecei em julho de 2015. A intenção era, e
continua sendo, assistir
filme, ler texto, refletir, escrever; assistir, ler, refletir,
escrever; assistir, ler, refletir, escrever...
Uma vontade de conhecer mais sobre o cinema brasileiro, desde suas
origens até
os dias de hoje.
No
ano passado, foram quatro destinos: O Padre e a Moça de
Joaquim Pedro de Andrade
(http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html);
Rio, 40 graus de
Nelson Pereira dos Santos
(http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_22.html);
Ganga Bruta de
Humberto Mauro
(http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html);
e Limite de Mario
Peixoto
(http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_30.html).
Retomo minha viagem com essa última parada.
Ontem
revi essa obra-prima e única de Mario Peixoto.
Mais uma vez fui arrebatado pela sua beleza. Na beleza do filme,
Peixoto nos levou a refletir sobre os limites da vida humana e as
suas possibilidades: Resignação ou persistência? Determinismo ou
voluntarismo? Para Mello
(2007) é uma tragédia cósmica sobre a derrota humana.
Para Souza (2001), é um
discurso sobre resistência e luta pela vida.
Entre as opções, uma
miríade
de emoções brotam da experiência de assistir este que Machado
(2010, p. 27)
considera o marco inaugural do cinema experimental na América
Latina. Um
cinema que não se enquadra
nos limites das classificações usuais: nem ficção, nem
documentário.
Cinema
na forma de arte.
Cinema-poesia. No dizer de
Santos (2011, p 22), o filme se organiza de forma poética,
de maneira oposta aos discursos que a partir de Griffith passaram as
narrativas cinematográficas.
Esta distinção ´foi
reforçada por Mello (2007, p.
39) Para ele, Limite
não é um filme narrativo... o filme se constrói...
no plano visual e rítmico... as imagens geradas
pelo tema só têm sentido no ritmo dado pela montagem.
La
Ferla (2008) apontou que o longa de Mario Peixoto está sendo objeto
de um crescente número de estudos.
A importância de Limite vai
além da dimensão histórica.
Segundo La Ferla (2008), além
de surgir no começo do cinema brasileiro, Limite é importante
também pela sua forma de criação audiovisual e encenação
cinematográfica. Assim
como Machado (2010), La Ferla ressalta as características de cinema
experimental de Limite.
Enfim,
aos 22 anos, Mario Peixoto deu
concretude, de uma forma altamente abstrata, à ideia nascida em
Paris no ano de 1929. Segundo informa Mello (2007), após uma
situação de conflito
com o pai, Peixoto sai e vê, em um quiosque a capa da revista Vu,
número 74, que tem uma foto que mostra a cabeça de uma mulher,
olhando para a frente, enlaçada por punhos masculinos algemados.
Esta foto é representada nos
momentos iniciais e finais do
filme e sugere o tema de Limite.
Para uns, como disse acima,
de angústia, resignação, derrota ou desistência da luta da vida.
Para outros, o contrário. O que lhe dirá o filme?
Ficha
técnica:
Limite,
longa metragem, P/B. Produção, roteiro, direção e montagem: Mário
Peixoto; Fotografia e câmera Edgar Brazil. Assistente geral: Rui
Costa; Elenco: Olga Brenno, Taciana Rei, Raul Schnoor, Brutus
Pedreira, Mario Peixoto, Carmem Santos; Trilha musical organizada com
discos comuns,78 rotações, por Brutus Pedreira, com peças de
Satie, Debussy, Borodin, Ravel, Stravinski, César Frank e Prokofiev.
Filmado em Mangaratiba (RJ), 1931.
Fonte:
Santos
(2011).
LA
FERLA, Jorge Limite.
Sinfonia
do sentimento.
Ars,
v.
16,
n.
12,
p.
69-79,
2008.
MACHADO,
Arlindo Pioneiros do vídeo e do cinema experimental na América
Latina. Significação,
n.
33,
p.
21-40,
2010.
MELLO,
Saulo Pereira Limite: Angústia. Alceu,
v. 8, n 15, p 38-47, 2007.
SANTOS,
Ney Costa Limite, um mundo sem Deus.
Alceu,
v. 11, n.
22,
p.
194-200,
2011.
SOUZA,
Tânia C.
Clemente
de Discurso e cinema: uma análise de Limite.
Ciberlegenda,
n.
4,
p.
1-19,
2001.