sábado, 17 de janeiro de 2015

Mercado exibidor de filmes no Brasil em 2014: Uma análise preliminar

Foi divulgado no sítio eletrônico do Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual o Informe Anual Preliminar de acompanhamento do mercado exibidor de cinema no Brasil em 2014. O documento pode ser acessado em http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/Informes/2014/Informe_anual_preliminar_2014_ArquivodePublicacao.pdf.
As informações do relatório baseiam-se em dados consolidados em 09/01/2015 considerando as 52 semanas cinematográficas entre 03/01/2014 e 31;/12/2014.
Os dados que deram origem ao documento são informados semanalmente pelas empresas distribuidoras registradas na Agência Nacional do Cinema – ANCINE. São seis distribuidoras internacionais (Paramount, Universal, Disney, Sony, Fox e Warner) e 59 brasileiras.
Em relação a 2013, o público de cinema no Brasil teve um crescimento de 4,1% em 2014, atingindo a marca de 155,6 milhões de espectadores com renda bruta acumulada de R$ 1,96 bilhão, crescimento de 11,6% em comparação com 2013.
Embora tenha havido um crescimento no número de títulos exibidos no Brasil em comparação a 2013 (15,7%), a participação dos títulos brasileiros no segmento de salas de exibição em 2014 foi menor do que em 2013.  Entre 663 títulos exibidos no ano passado, 179 foram brasileiros e 484 estrangeiros. Os lançamentos de filmes em 2014 totalizaram 387, dos quais 114 são brasileiros. Esses números, em 2013, foram de 397 títulos lançados, com a participação de 129 filmes brasileiros, com uma queda de 2,5% no total de lançamentos. No que diz respeito ao total de títulos exibidos, 2014 apresentou um crescimento de 7,2% para os títulos brasileiros e 19,2% para os estrangeiros.
O mercado de exibição de filmes em salas ampliou o domínio da presença de filmes dos Estados Unidos. Entre as vinte maiores bilheterias de 2014, apenas um filme é brasileiro – Até que a sorte nos separe 2. Os outros dezenove filmes são originários dos Estados Unidos. Esse predomínio pode ser observado, ainda, na participação da renda pelas distribuidoras internacionais. Enquanto as distribuidoras brasileiras tiveram sua participação na renda total diminuída de 30,7% em 2014 para 26,8% em 2014, as seis distribuidoras estrangeiras arrecadaram 73,2% da renda total em 2014, um crescimento de 20,4% em comparação com 2013.
De igual forma, este predomínio estrangeiro reflete-se na participação da produção nacional no mercado exibidor. Em termos de público, a participação dos filmes brasileiros foi de 12,2%, enquanto que a participação na renda foi um pouco menor, 11,3%.
Dados extraídos da tabela de filmes lançados em 2014 no mercado exibidor brasileiro (https://docs.google.com/spreadsheet/ccc?key=0An35VQw3gIjHdEg2X1JObUFCcjg4SFlsSHVYS1JTMVE&usp=sharing#gid=0) demonstram o predomínio das distribuidoras estrangeiras sobre as brasileiras. As seis estrangeiras lançaram 84 filmes e obtiveram uma renda de R$ 1,4 bilhão, enquanto que as seis maiores distribuidoras nacionais conseguiram uma renda de R$ 444 milhões com 123 filmes. Isto é, uma renda três vezes menor com 50% a mais de filmes!

Categoria

Distribuidora

Renda

Filmes

Estrangeira

Fox

441.948.732,00

19

Disney

300.816.902,00

18

Warner

240.242.515,00

18

Paramount

225.756.433,00

9

Sony (Columbia)

142.804.495,81

13

Universal

73.276.249,09

7

Total

1.424.845.326,90

84

Brasileira

Imagem (Wmix)

124.641.105,35

29

Paris (SM)

117.130.269,11

26

Downtown/Paris

97.097.861,76

16

Califórnia (Antonio Fernandes)

41.459.317,50

19

Diamond Films do Brasil

27.333.016,84

12

Playarte

26.082.461,47

9

H2O Films

10.667.414,35

12

Total

444.411.446,38

123
 
Por fim, o documento da ANCINE revela que o parque de salas de cinema no Brasil chegou a 2.830 salas em 2014, das quais 62,5% são digitalizadas. Este parque tende a ser cada vez mais dominado por grandes grupos marcados pela presença no mercado por meio de complexos de salas instalados, em geral, em shopping centers. Menos de 10% das salas de exibição de filmes no Brasil são independentes.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Uma viagem pelo cinema no mundo ou pelo mundo do cinema

A primeira leitura em cinema desse ano estendeu-se por três dias, entre Londrina e Maringá. Em Cinema Mundial Contemporâneo, organizado por Mauro Baptista e Fernando Mascarello, é possível conhecer um pouco sobre a cinematografia de alguns países esparramados por quatro continentes. Uma leitura que se inicia com prefácio de Fernão Pessoa Ramos que nos chama a atenção sobre do que se trata quando falamos em cinema: Neste livro, que não tem perfil exaustivo, encontramos tendências, autores, estilos, filmes marcantes do cinema de hoje... (p. 11).

A seguir, Fernando Mascarello desenvolve argumento muito bem elaborado defendendo a continuidade do uso da expressão cinema nacional em tempos globais. Para ele, apesar da crescente presença do transnacional na produção e recepção de filmes, a reinvenção do conceito de cinema nacional envolve várias possibilidades, com destaque para a compreensão que, para além do fato de que o cinema nacional é também constituído pela sua recepção, que tanto essa recepção quanto a textualidade dos filmes nacionais são direta e vigorosamente determinadas, entre outros fatores, pela circulação e recepção doméstica seja de filmes estrangeiros, seja de produtos televisivos nacionais e estrangeiros (p. 50). Para Mascarello, essa reinvenção do conceito de cinema nacional demanda a superação de algumas insuficiências e vícios históricos presentes nesse conceito que dizem respeito a: apenas, considerar os filmes, sem levar em conta os contextos produtivos e receptivos; canonização de parte da cinematografia como legítima representante do nacional em oposição à desconsideração de outras vertentes; e, por fim, a exclusão das culturas do vídeo e da televisão (p, 29).

Estruturado em cinco partes adicionais, o livro permite uma viagem por países europeus, latino-americanos, africanos, asiáticos, além da discussão da produção hollywoodiana e independente dos Estados Unidos. 

No caso do cinema brasileiro, há dois capítulo inseridos no livro; Luiz Zanin Orichio aborda os filmes de ficção entre 1990 e 2007; enquanto que o documentário brasileiro de 1999 a 2007 é analisado por Consuelo Lins e Cláudia Mesquita. 

Ainda na América Latina, há um capítulo de autoria de Andrea Molfetta sobre o cinema argentino, e um capítulo instigante sobre os diretores transnacionais latino-americanos (Hector Babenco, Bruno Barreto, Walter Salles, Fernando Meirelles, Luiz Puenzo, Alejandro Agresti, Luiz Mandoki, Alfonso Arau, Alfonso Cuaron, Alejandro Iñárritu e Guillermo Del Toro). Esse capítulo, de autoria de Cléber Eduardo, acaba demonstrando a dificuldade do rótulo de cinema nacional abarcar experiências individuais que transcendem os limites geográficos de um país. 

Algo semelhante pode ser apreendido no capítulo de Mahomed Bamba sobre o cinema africano, tratado de forma singular, como uma produção continental, mas também de forma plural ao se referir especialmente à Nigéria e África do Sul. Também, no capítulo final sobre o cinema iraniano, Alessandra Meleiro aponta a dificuldade de batizar o cinema realizado pelos cineastas iranianos, em função de suas trajetórias formativas individuais realizadas em países distintos. Para ela, as trajetórias percorridas por Mehrjul, Farmanara, Bahram Beizai, Kiarostami, Naderi e Mohsen Makhmalbaf exemplificam que estar além das fronteiras territoriais não pode ser indicador de já não ser iraniano, assim como viver no Irã não significa que a estética e a sensibilidade política sejam inteiramente "nacionais" (p. 350).

Outros cinemas nacionais apresentados no livro incluem o francês, o britânico, o italiano, o espanhol e um capítulo dedicado ao movimento Dogma 95 originário da Dinamarca. Além desses cinco capítulos dedicados ao cinema de países europeus, da Ásia são analisados os casos da China, Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Irã. 

Como fruto principal da leitura, surgiu em mim um reforço para a vontade de me debruçar sobre o estudo do cinema brasileiro contemporâneo, abarcando nessa iniciativa um olhar mais abrangente que envolva não apenas o lado da produção, mas também de sua recepção. Este estímulo é inspirado no texto de Fernando Mascarello que. ao alertar sobre a temeridade de apostar em um futuro inexistente para as cinematografias nacionais,  aponta o que chama de permanências: de uma identidade particular ao cinema, das determinações do Estado-nação e, logo, de muitas das especificidades dos cinema nacionais (p.27). 

Assim, a partir das análises apresentadas em relação aos anos anteriores a 2007 no livro, me parece oportuno verificar e descrever o cinema brasileiro entre 2007 e 2014.

BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando Cinema Mundial Contemporâneo. 2a. Edição. Campinas, SP: Papirus, 2012.