sábado, 21 de setembro de 2013

Impressões sobre cinco curtas - Sessão 3 do KINOFORUM CURITIBA 2013

No primeiro post que publiquei nesse blog - http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2013/01/dialetica-do-espectador.html - registrei minha impressão sobre o livro Dialética do Espectador de Tomás Gutiérrez Alea. Nele, Alea explora a relação dialética do espectador com o espetáculo cinematográfico, onde razão e emoção se encontram em uma experiência estética que leva a um novo posicionamento do espectador face à realidade que enfrenta.

A tese defendia por Alea em seu livro veio à minha mente ao assistir aos curtas que compuseram a sessão 3 do KINOFORUM CURITIBA 2013, que aconteceu às 19 horas de hoje. Um filme iraniano, outro espanhol e três co-produções - Estados Unidos/Suíça, México/Alemanha e Dinamarca/Palestina - compuseram a sessão de uma hora e quinze minutos.

O primeiro, Hotel Pennsylvania, realizado por Marc Raymond Wilkins em 2013, em co-produção Estados Unidos/Suíça, apresenta o microcosmo de uma escola de inglês onde interagem personagens das mais diferentes nacionalidades que, além de suas esperanças e frustrações, precisam enfrentar um professor nada convencional. Em um bar localizado em uma esquina próxima aonde estudam os emigrantes, uma garçonete de origem egípcia encanta seus clientes, inclusive um dos alunos da escola. Conflito de culturas em um roteiro bem construído nos faz pensar sobre nossa relação com o diverso.

De Victor Orozco é a animação de 2012 que relata de forma exuberante e ágil a relação de um emigrante mexicano que vai para a Alemanha, mas não consegue se distanciar de seu país natal. Fascinado pela aparente tranquilidade da vida germânica, acompanha a violência de traficantes que usam a internet para divulgar suas ações violentas contra reféns. Este é o contexto de Reality 2.0 que nos faz pensar sobre onde se localiza realmente a transformação humana?

Angustiante e doloroso é o retrato que nos apresenta Mais de duas horas, o curta de Ali Asgari feito no Irã em 2013. Um jovem casal de namorados precisa resolver um problema de saúde dela, mas a lei impede que eles o façam sem o consentimento dos pais dela. Exasperante, o curta apenas sugere um final que ressalta a difícil condição feminina naquela país. O clima escuro da filmagem reforça o compartilhamento da impotência dos protagonistas com os espectadores.

Um filme poesia ajudou a aliviar minhas emoções doloridas após ver o filme iraniano. Montanha em sombra, filme espanhol de Lois Patiño totalmente realizado em preto e branco e produzido em 2013, apresenta cenas de montanhas cobertas de neve e esquiadores. Mas, o ângulo de filmagem é sempre do alto, de forma a ressaltar a grandeza das montanhas e a pequenez do ser humano. A música também exerce papel estético importante nessa poesia em forma de filme. Não há como não se emocionar com as diferentes sequências que resultam em imagens muito belas.

Ao final da sessão, uma provocação bem-humorada de Larissa Sansour, na produção dinamarquesa/palestiniana de 2012, chamada Nation State. Com apenas nove minutos de duração, em uma ambientação futurística, a Palestina é apresentada como um arranha-céu encravado em Israel. Será essa a solução para o interminável conflito no oriente médio?

Em termos estéticos, os cinco filmes foram experiências sensoriais muito agradáveis. As escolhas de cada realizador me deram um prazer muito grande. Ao mesmo tempo, cada filme provoca uma reflexão sobre questões mal ou não resolvidas de nossa sociedade contemporânea: conflitos culturais, conflitos étnicos, violência, intolerância religiosa, relações entre gênero. Como nos ensinou Alea, é da tensão entre razão e emoção, que os filmes nos ajudam a um repensar sobre nosso lugar na sociedade e o papel que exercemos. Foram cinco curtas inspiradores da razão e da emoção.




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Quatro curtas - quatro casais

A primeira sessão do KINOFORUM CURITIBA 2013, itinerância do 24o. Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, ocorreu hoje das 19 às 20:30 horas. Na tela, quatro curtas de diferentes países, com temáticas distintas, mas com uma singularidade. Em cada um deles, a relação entre uma mulher e um homem e a forma com que lidam com suas emoções.

Em A Vala, curta romeno de Adrian Silisteanu realizado em 2012, vemos Vasile e sua esposa, um casal na faixa dos 50 anos, lidando com a necessidade de abrirem uma vala em frente a sua casa. Esta tarefa precisa ser feita para evitar que sejam multados pela prefeitura. Vasile, para irritação da esposa, tenta fugir à tarefa de qualquer forma. Para complicar ainda mais a relação, provoca uma nova briga ao aceitar ser o padrinho do filho de cinco meses de um cigano.

Em Café com Geléia, é a vez de um  casal jovem enfrentar sua relação que parece tão harmônica até que um pequeno incidente acaba por colocá-los em uma beco sem saída. Com apenas cinco minutos de duração, esse curta de 2013 vindo da Croácia, realização de Filip Peruzovic, nos mostra como a relação de um casal pode ser altamente instável, apesar das aparências. Comparando com o filme romeno, é provável que a relação desse jovem casal não conseguirá ser tão longa quanto a de Vasile e sua esposa, apesar do aparente conflito constante entre os dois.

O terceiro curta da sessão veio da Bélgica, realizado por Jan Van Dyck em 2013. O mais experimental de todos os curtas da sessão, Até acontecer com você narra um incidente na vida de um casal jovem. Filme com imagens belíssimas, a história se refere ao desaparecimento do filho de 10 anos do casal, enquanto passavam férias em um bosque. Com uma narrativa não linear, muito silêncio e pouca movimentação dos atores, a câmara passeia lentamente nos mostrando a angústia crescente do casal. O casal é quase transparente de tão brancos que são, e essa brancura se esparrama pelo filme como um todo, nos permitindo quase que enxergar a angústia dolorosa por que passa o casal em busca do filho desaparecido.

Depois de um drama angustiante, a sessão terminou com a apresentação de uma comédia ligeira israelense, realizada em 2012 por Mishtatfim Betzaarchkem. Com 25 minutos de duração, Bem vindos e... Nossos pêsames usa a perspectiva de um menino de doze anos para mostrar a imigração de sua família da URSS para Israel. Nessa viagem, seus pais terão que lidar com um fato inusitado cuja solução se dará só por acaso. Lidando com essa situação, vemos mãe e pai enfrentando a burocracia da imigração israelense.

Após a sessão um debate com a participação de Erick Felinto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Luiz Antonio Salgado da Faculdade de Artes do Paraná e Denize Araujo da Universidade Tuiuti do Paraná, explorou aspectos da linguagem e construção narrativa de cada filme.

A existência de um casal em cada filme chamou minha atenção. Apesar dos diferentes estilos narrativos e gêneros fílmicos, foi interessante observar que a relação entre mulher e homem é um tema que não se esgota no cinema. Diferenças de gênero continuarão inspirando realizadores a contarem estórias alegres, engraçadas, conflituosas, de entendimento, de apoio mútuo ou de rompimento. Independente de qual seja o mote a ser explorado, é muito bom quando essas velhas questões são tratadas de forma competente em filmes curtas ou longas. Foi esse o caso dos quatro curtas dessa sessão.

A primeira sessão do KINOFORUM CURITIBA 2013 foi gratificante! Mal posso esperar pelas outras!