O
ano 1995 marca a época que foi chamada da Retomada do Cinema Brasileiro, com o
sucesso de Carlota Joaquina de Carla Camuratti (1.286.000 espectadores em salas
de cinema) e O Quatrilho de Fábio Barreto (1.117.154). Desde então, a produção
brasileira de longas metragens tem crescido de forma contínua, passado de uma
média de 21 filmes por ano entre 1995 e 2000, 37 entre 2001 e 2005, 77 no
lustro seguinte e 100 nos últimos três anos. Ao longo de quase duas décadas,
foram lançados nas salas de exibição brasileiras, 1001 filmes dos quais 1,2%
eram Animação, 33,9% Documentários e 64,8% do gênero de ficção. A tabela 1
apresenta o número de filmes de longa-metragem brasileiros por gênero e no
total para cada ano.
Tabela 1: Longas
brasileiros lançados entre 1995 e 2013
Ano
|
Filmes
|
Animação
|
Documentário
|
Ficção
|
1995
|
14
|
0
|
3
|
11
|
1996
|
18
|
0
|
1
|
17
|
1997
|
21
|
0
|
2
|
19
|
1998
|
23
|
0
|
2
|
21
|
1999
|
28
|
0
|
4
|
24
|
2000
|
23
|
0
|
2
|
21
|
2001
|
30
|
1
|
8
|
21
|
2002
|
29
|
0
|
10
|
19
|
2003
|
30
|
0
|
4
|
26
|
2004
|
49
|
1
|
15
|
33
|
2005
|
46
|
1
|
14
|
31
|
2006
|
71
|
1
|
24
|
46
|
2007
|
78
|
2
|
32
|
44
|
2008
|
79
|
1
|
25
|
53
|
2009
|
84
|
1
|
39
|
44
|
2010
|
74
|
0
|
31
|
43
|
2011
|
100
|
1
|
41
|
57
|
2012
|
83
|
2
|
34
|
47
|
2013*
|
121
|
1
|
48
|
72
|
Total
|
1001
|
12
|
339
|
649
|
Fonte:
elaborada pelo autor com dados do Observatório Brasileiro do Cinema e
Audiovisual (http://oca.ancine.gov.br/notas_informes.htm).
*Dados
de 2013 referem-se a 49 semanas cinematográficas, entre 04/01 e 12/09
A
concentração geográfica da produção de filmes de longa-metragem no Brasil fica
evidenciada fortemente quando se analisa a sede das produtoras de cada filme. Os
1001 filmes do período analisado tiveram sua produção por empresas sediadas em 14
unidades da federação brasileira. Isoladamente, o Rio de Janeiro dominou 51,84%
desse mercado, tendo participado de produção de 519 longas. São Paulo é o
segundo produtor do país, mas muito distante do primeiro colocado, com 32,47%
da produção. A região Sudeste do país, considerando-se a produção de 25 longas
em Minas Gerais e apenas três no Espírito Santo, representou nesses dezenove
anos, 87,11% do total de filme lançados nas salas de cinema no país.
Na
região Sul, o estado com maior participação foi o Rio Grande do Sul com 45
filmes, seguido por Paraná com 13 longas e Santa Catarina com nove produções.
Em conjunto, os três estados fizeram com que a participação da região Sul do
país chega-se a meros 6,5%.
O
nordeste brasileiro nos anos recentes, em especial Pernambuco a partir de 2005
tem ampliado sua produção cinematográfica. Nos dezenoves anos analisados, além
de Pernambuco, houve a realização de filmes por produtoras da Bahia, Ceará e Maranhão,
levando a produção do Nordeste a apenas 5,60% dos filmes.
Por
fim, o Centro-Oeste brasileiro teve uma participação na produção cinematográfica
brasileira de 2,2%, enquanto que o Norte do país não registrou produção de
longas-metragens entre 1995 e 2013. A tabela 2 apresenta a produção de cada
estado.
Tabela 2 – Número de longas-metragens
por Unidade da Federação entre 1995 e 2013
Região
|
Estado
|
Longas-metragens*
|
Sudeste
|
Rio
de Janeiro
|
519
|
São
Paulo
|
325
|
|
Minas
Gerais
|
25
|
|
Espírito
Santo
|
3
|
|
Sul
|
Rio
Grande do Sul
|
43
|
Paraná
|
13
|
|
Santa
Catarina
|
9
|
|
Nordeste
|
Pernambuco
|
21
|
Ceará
|
19
|
|
Bahia
|
15
|
|
Maranhão
|
1
|
|
Centro-Oeste
|
Distrito
Federal
|
19
|
Mato
Grosso
|
2
|
|
Goiás
|
1
|
Fonte:
elaborada pelo autor com dados do Observatório Brasileiro do Cinema e
Audiovisual (http://oca.ancine.gov.br/notas_informes.htm).
*Total
ultrapassa 1001, devido a alguns filmes terem sido co-produzidos. O mesmo filme
foi contado mais de uma vez se havia produtoras de distintas UFs.
Uma
análise dos 100 longas brasileiros de maior bilheteria (público) nesses
dezenove anos revela um diagnóstico que chama a atenção, mais uma vez, pela
alta taxa de concentração de mercado que a produção cinematográfica brasileira
revela. A compilação desses 100 filmes de maior audiência em salas de cinema
pode ser vista na Tabela 3.
Em
primeiro lugar, 2010 revelou o grande sucesso do filme Tropa de Elite 2,
dirigido por José Padilha, com mais de 11 milhões de espectadores. Esse filme
conseguiu 6,22% dos 179.302.467 ingressos vendidos pelos 100 filmes no período.
Quando se adiciona os ingressos obtidos por Tropa de Elite, lançado em 2007, os
dois filmes de José Padilha acumulam 7,56% dos ingressos.
Outro
indicador que ressalta a concentração da produção cinematográfica brasileira no
período analisado é que um terço dos filmes (33) representaram 62,34% dos
ingressos dessa centena de filmes. Esta concentração fica um pouco mais
evidente quando se observa que entre esses 33 longas brasileiros há cinco pares
de filme e sequência: Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite 2 (2010); Se Eu
Fosse Você (2006) e Se Eu Fosse Você 2 (2009); De Pernas pro Ar (2011) e De
Pernas pro Ar 2 (2012); Os Normais (2003) e Os Normais 2 (2009); Xuxa e os
Duendes (2001) e Xuxa e os Duendes 2 (2002). No conjunto, esses dez filmes
obtiveram 23,33% do público do cinema entre os 100 filmes de maior bilheteria.
Tabela 3: 100 filmes
de maior público entre 1995 e 2013
Ano
|
Filme
|
Público
|
Ano
|
Filme
|
Público
|
2010
|
Tropa de Elite 2
|
11.146.723
|
1995
|
Carlota Joaquina
|
1.286.000
|
2009
|
Se eu fosse você 2
|
6.112.851
|
2004
|
A dona da história
|
1.271.415
|
2005
|
Dois filhos de Francisco
|
5.319.677
|
2011
|
O palhaço
|
1.242.800
|
2012
|
De pernas por ar 2
|
4.846.259
|
2011
|
O homem do futuro
|
1.211.083
|
2003
|
Carandiru
|
4.693.853
|
2011
|
Qualquer gato
|
1.194.628
|
2013
|
Minha mãe é uma peça
|
4.600.145
|
2013
|
Mato sem cachorro
|
1.134.551
|
2010
|
Nosso Lar
|
4.060.304
|
1995
|
O quatrilho
|
1.117.154
|
2006
|
Se eu fosse você
|
3.644.956
|
2013
|
Crô- o filme
|
1.111.116
|
2011
|
De pernas pro ar
|
3.506.552
|
2006
|
Xuxa gêmeas
|
1.035.700
|
2010
|
Chico Xavier
|
3.413.231
|
2006
|
Didi o caçador de tesouros
|
1.024.732
|
2002
|
Cidade de Deus
|
3.370.871
|
2004
|
Didi quer ser criança
|
982.175
|
2012
|
Até que a sorte nos separe
|
3.324.727
|
2005
|
O casamento de Romeu e Julieta
|
969.278
|
2003
|
Lisbela e o prisioneiro
|
3.174.643
|
2004
|
Irmãos de fé
|
966.021
|
2004
|
Cazuza o tempo não para
|
3.082.522
|
1999
|
Orfeu
|
961.961
|
2004
|
Olga
|
3.078.030
|
2010
|
O bem amado
|
955.393
|
2013
|
Meu passado me condena
|
3.065.419
|
2012
|
As aventuras de Agamenon, o reporte
|
937.980
|
2003
|
Os normais
|
2.996.467
|
1999
|
Zoando na tv
|
911.934
|
2011
|
Cilada.com
|
2.959.460
|
2008
|
Ensaio sobre a cegueira
|
904.514
|
2013
|
Vai que dá certo
|
2.729.340
|
2001
|
Tainá, uma aventura na Amazônia
|
853.210
|
2001
|
Xuxa e os duendes
|
2.657.091
|
2010
|
Lula, o filho do Brasil
|
848.733
|
2012
|
E aí, comeu?
|
2.576.213
|
2007
|
O primo Basílio
|
838.726
|
2012
|
Os penetras
|
2.548.441
|
2003
|
Acquaria
|
837.695
|
2007
|
Tropa de Elite
|
2.421.295
|
2005
|
Tainá 2, a aventura continua
|
788.442
|
2000
|
Xuxa pop star
|
2.394.326
|
2006
|
Zuzu Angel
|
774.318
|
2009
|
A mulher invisível
|
2.353.646
|
1999
|
O trapalhão e a luz azul
|
771.831
|
2003
|
Maria, mãe do filho de deus
|
2.332.873
|
2006
|
O cavalheiro Didi e a princesa Lili
|
742.340
|
2002
|
Xuxa e os duendes 2
|
2.301.152
|
1999
|
Castelo Rá-tim-bum, o filme
|
725.329
|
2004
|
Sexo, amor e traição
|
2.219.423
|
2013
|
O tempo e o vento
|
711.381
|
2003
|
Xuxa abracadabra
|
2.214.481
|
2000
|
Eu, tu, eles
|
695.682
|
2009
|
Os normais 2
|
2.202.640
|
2003
|
Casseta & Planeta, a taça do mundo é nossa
|
690.709
|
2011
|
Bruna surfistinha
|
2.176.999
|
2009
|
O menino da porteira
|
669.287
|
2000
|
O auto da compadecida
|
2.157.166
|
2003
|
O homem que copiava
|
664.651
|
2008
|
Meu nome não é Johnny
|
2.099.294
|
1997
|
Guerra de canudos
|
655.016
|
1999
|
Xuxa requebra
|
2.074.461
|
2005
|
O coronel e o lobisomen
|
654.983
|
2007
|
A grande família - o filme
|
2.035.576
|
2008
|
O guerreio Didi e a ninja Lili
|
647.555
|
2011
|
Assalto ao banco central
|
1.966.736
|
2006
|
Casseta & Planeta seus problemas acabaram
|
596.624
|
2009
|
Divã
|
1.866.403
|
2005
|
Xuxinha e Guto contra os monstros do espaço
|
596.218
|
2003
|
Didi, o cupido trapalhão
|
1.758.579
|
2011
|
Vips
|
593.855
|
2013
|
Somos tão jovens
|
1.715.763
|
2004
|
Meu tio matou um cara
|
591.120
|
1998
|
Simão o fantasma trapalhão
|
1.658.136
|
2008
|
Era uma vez...
|
570.470
|
2003
|
Deus é brasileiro
|
1.635.212
|
2007
|
Turma da Mônica em uma aventura no tempo
|
545.482
|
1998
|
Central do Brasil
|
1.593.967
|
2008
|
Última parada - 174
|
526.094
|
1997
|
O noviço Rebelde
|
1.501.035
|
2008
|
A casa da mãe Joana
|
525.035
|
2010
|
Muita calma nessa hora
|
1.485.498
|
2012
|
Totalmente inocentes
|
523.577
|
2013
|
Faroeste caboclo
|
1.469.743
|
2000
|
Bossa nova
|
520.614
|
2012
|
Gonzaga - de pai para filho
|
1.460.447
|
2011
|
As mães de Chico Xavier
|
517.330
|
2001
|
A partilha
|
1.449.411
|
1996
|
Tieta do Agreste
|
511.954
|
2004
|
Xuxa e o tesouro da cidade perdida
|
1.331.652
|
2006
|
Muito gelo e dois dedos d'água
|
509.098
|
2013
|
O concurso
|
1.320.102
|
2009
|
Besouro
|
492.659
|
2009
|
Xuxa em o mistério da feiurinha
|
1.307.135
|
2013
|
Cine Holliúdy
|
483.088
|
Fonte:
elaborada pelo autor com dados do Observatório Brasileiro do Cinema e
Audiovisual (http://oca.ancine.gov.br/notas_informes.htm).
Mais
um indicador de concentração no mercado é observado pela participação de cada
produtora nos 100 filmes de maior público nesse período. Esse conjunto de
filmes foi produto de 55 produtoras que atuaram isoladamente ou em coproduções.
Desse conjunto, apenas 15 empresas participaram da produção de 68 longas que
obtiveram pouco mais de 139 milhões de espectadores, ou seja, 68% dos filmes e
77,7% dos ingressos. A participação dessas quinze empresas é exibida na tabela
4. De novo, a presença dominante do estado do Rio de Janeiro é evidenciada
nessa tabela. Apenas uma das produtoras tem sede em São Paulo.
Tabela 4:
Participação de Produtoras em número de filmes e público entre 1995 e 2013
Produtora
|
Filmes
|
Público
|
Estado
|
Diler
& Associados
|
16
|
23.604.838
|
RJ
|
Conspiração Filmes
|
9
|
16.157.290
|
RJ
|
Total
Entertainment
|
5
|
15.810.369
|
RJ
|
Zazen
Produções Audiovisuais
|
2
|
13.568.018
|
RJ
|
Lereby
Produções
|
7
|
11.476.337
|
RJ
|
Morena
Filmes Ltda
|
3
|
9.007.827
|
RJ
|
Globo
Filmes
|
5
|
7.903.940
|
RJ
|
Casé
Filmes
|
2
|
7.021.171
|
RJ
|
Globo
Comunicação e Participações S.A.
|
4
|
6.208.018
|
RJ
|
Atitude
Produções e Empreendimentos Ltda.
|
3
|
5.688.290
|
RJ
|
O2
Cinema
|
2
|
4.869.240
|
SP
|
Natasha
enterprises
|
3
|
4.785.019
|
RJ
|
Migdal
Produções Cinematográficas Ltda
|
1
|
4.600.145
|
RJ
|
Filmes
do Equador
|
5
|
4.566.895
|
RJ
|
Cinética
Filmes e Produções
|
1
|
4.060.304
|
RJ
|
Total
|
68
|
139.327.701
|
Fonte:
elaborada pelo autor com dados do Observatório Brasileiro do Cinema e
Audiovisual (http://oca.ancine.gov.br/notas_informes.htm).
Por
fim, apenas como curiosidade,foram identificados os diretores de maior sucesso
de público. Os dados estão na tabela 5. Daniel Filho surgiu como o grande
campeão com sete filmes e mais de 17 milhões de público, seguido por José
Padilha, Roberto Santucci e José Alvarenga Jr, todos com mais de 10 milhões de
espectadores. A concentração do mercado se repete, também, no caso dos
diretores dos longas-metragens. Entre 61 cineastas, um quarto dirigiu 44 % dos
filmes e conseguiu 63,7% do público, conforme se mostra na tabela 5.
Tabela 5: Diretores,
filmes e público entre 1995 e 2013
Diretor
|
Filmes
|
Público
|
Daniel Filho
|
7
|
17.239.688
|
José Padilha
|
2
|
13.568.018
|
Roberto Santucci
|
3
|
11.677.538
|
José Alvarenga Jr
|
5
|
10.936.904
|
Moacyr Góes
|
5
|
7.441.245
|
Breno Silveira
|
3
|
7.350.594
|
Tizuka Yamazaki
|
4
|
7.276.957
|
Guel Arraes
|
3
|
6.287.202
|
Mauricio Farias
|
3
|
5.419.899
|
Rogério Gomes
|
2
|
5.051.417
|
Paulo Sérgio Almeida
|
3
|
4.958.243
|
André Pelenz
|
1
|
4.600.145
|
Fernando Meirelles
|
2
|
4.275.385
|
Felipe Joffily
|
2
|
4.061.711
|
Wagner de Assis
|
1
|
4.060.304
|
Total
|
44
|
114.205.250
|
Fonte:
elaborada pelo autor com dados do Observatório Brasileiro do Cinema e
Audiovisual (http://oca.ancine.gov.br/notas_informes.htm).
Este
é, em minha opinião, um retrato inquietante da produção cinematográfica
brasileira após a Retomada. Parece-me que há necessidade de políticas públicas
que estimulem a descentralização dessa produção. Há muita diversidade cultural
em nosso país que pode e deve ser explorada de forma criativa no cinema. Mas,
além da produção precisar ser esparramada por esse vasto país, as políticas
públicas precisam estimular também a exibição dessa produção. É um debate que
precisa ser continuado para orientar escolhas em nível de país, estados e
municípios.