08/12/2013
- 02:37: Acabo de ver Alma Corsária, filme de Carlos Reichenbach lançado
em 1993. Mais cedo assisti Garotas do ABC. Já vi dele, algum tempo atrás, Dois
Corregos. Acho que vai ser um fim de semana de imersão nos filmes desse grande
cineasta brasileiro morto em 2012 quando completava 67 anos.
08/12/2013 - 15:18: A imersão na obra
cinematográfica de Carlos Reichenbach continuou de manhã: primeiro Falsa Loura,
depois o curta Esta Rua tão Augusta e por fim, a obra prima Filme Demência.
Impressionante a capacidade que Reichenbach tinha de por sentimento nas
imagens. Um detalhe: como Hitchcock, ele faz uma ponta em seus filmes, Pelo
menos em dois deles já observei. Aliás, todos seus filmes são recheados de
referências ao Cinema. Cara genial!
08/12/2013 - 20:28: Uma jornada particular
chega ao fim! (ou apenas começa?) Para encerrar o mergulho Reichenbachiano,
assisto Lilian M. Um Relatório Confidencial e depois uma edição do programa
Sala de Cinema (SESCTV) na qual Reichenbach foi o entrevistado. Algumas
observações que havia feito, fazem sentido, após ouvir esse cineasta: a
importância da música em seus filmes, a experimentação, a presença constante de
fachadas de cinema e salas de cinema em seus filmes, o uso de enquadramentos,
movimentos e ângulos que lembram o espectador de que está vendo filme! Claros e
escuros! Fiquei extasiado após cinco longas, um curta e uma entrevista. Gosto de
quero mais!
08/12/2013 - 21:30: Estou ficando um pouco
obsessivo? Sara viajou e estou sozinho em casa! O que fazer senão assistir
filmes? Acabo de encontrar e ver O M da Minha Mão, depoimento musical (curta)
filmado por Reichenbach em 1979. Além da música, outro elemento muito presente
nos filmes dele: uma fachada de cinema, dessa vez o Cine Vera. Curti muito!
09/12/2013 - 23:06: Uma frase de Carlos
Reichenbach comentando Filme Demência, o filme de que mais gosta entre os que
realizou. Acho que serve de inspiração:
"Quando você não tem recursos humanos
sofisticados e nem dinheiro, mas tem negativo, equipamento básico e uma equipe
entusiasmada à disposição, você tem que inventar o que filmar. Minha escola de
cinema é a da escassez. O conceito era: quando você não tem o que gostaria de
ter, procure fazer o melhor usando a criatividade." (Carlos Reichenbach -
O cinema como razão de viver, por Marcelo Lyra, São Paulo: Imprensa Oficial,
2007, p.199).
09/12/2013
- 23:59: Outras frases de Reichenbach no mesmo livro:
Cinema é
arte feita em equipe, mas precisa obrigatoriamente ser norteada por um autor
(p. 102).
Desconfio
que naquela época, o cinema de São Paulo era meio desprezado. Nós, do cinema
independente de São Paulo, tínhamos muita dificuldade de sair do estado. Tenho
o maior apreço pelo Cinema Novo, mas o papado do Cinema Novo prejudicou nossa
geração. Como explicar o fato de um filme como O Bandido da Luz Vermelha nunca
ter sido enviado a um festival importante no exterior? (p. 108).
Uma lição
definitiva aprendida com a adversidade: jamais deixar para o final as
sequências mais complicadas, e que envolvam o maior número de atores e
figurantes (p. 145-146).
É comum
nos meus filmes a música ser apresentada como personangem (o elemento mais
importante da cena) e gradativamente se tornar diegética (a que algum
personagem esteja escutando). Busco fazer isso de modo que a mudança seja quase
imperceptível (p. 228).
Marcelo
Lyra comentando sobre o primeiro longa de Reichenbach, Corrida em Busca do
Amor: Seu
estilo anárquico e fragmentado antecipa a personalidade anti-convencional do
cinema do diretor: mistura de gêneros, subversão gradativa da sintaxe
cinematográfica, a música como personangem integrante da narrativa e a fé na
utopia como obsessão temática (p. 126).
Marcelo
Lyra comentando sobre Lilian M., Relatório Confidencial: todos os elementos que marcariam
sua obra estão aqui: preferência por atores menos conhecidos, elementos de
comédia, na linha da chanchada, nudez e um certo tom anárquico (p. 133-134).
Marcelo
Lyra comentando sobre O Império do Desejo:Todos os temas que lhe são caros estão aqui:
manipulação de clichês narrativos, subversão do repertório do filme erótico
comercial, mistura de gêneros, criação de atmosferas distintas a cada gênero,
busca de uma geografia própria, música como elemento narrativo, humor na linha
da chanchada e elementos do ideário anarco-libertário (p. 159).
A jornada
que começou no sábado à noite, parece que chega ao fim na terça-feira às 00:24
horas. Mas, não é verdade! Assim, como em seu Filme Demência, Recheinbach
propôs "uma viagem, sem a obrigação de chegar a lugar algum" (p.
189), para mim, esta jornada é só mais uma parte dessa minha longa viagem pelo
Cinema, que começou na adolescência, sem pressa e sem obrigação de chegar a
qualquer lugar!
Referência:
LYRA, Marcelo Carlos Reichenbach -
O cinema como razão de viver. São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário