sábado, 10 de agosto de 2013

O MERCADO EXIBIDOR DE FILMES NO BRASIL: CONTINUA TUDO DOMINADO!

No sítio eletrônico do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (oca.ancine.gov.br) encontram-se muitas informações sobre o mercado cinematográfico brasileiro. Uma tabela-base disponível nesse endereço fornece informações sobre público, renda e número de salas sobre os filmes exibidos no Brasil entre 04/01/2013 e 04/06/2013, período que corresponde a 26 semanas de exibição. Resolvi explorar um pouco os dados para ver o que me revelavam.

Trezentos e quarenta e dois filmes entraram em exibição nas salas de cinema brasileiras no primeiro semestre de 2013. Desse número, 196 foram lançados em 2013, 122 em 2012, dezessete em 2011, cinco relançamentos, um em 2003 e um em 2001.

Os filmes são originários de 33 países, incluindo o Brasil, sendo que apenas três foram coproduções internacionais. No primeiro semestre de 2013, o público atingiu a marca de 73.207.735 pessoas com uma bilheteria de R$ 854.226.971,61. O valor do ticket-médio nesse período foi de R$ 11,67.

Os filmes produzidos nos EUA representaram 34,5% dos exibidos nesse período no mercado brasileiro. Porém, sua participação na bilheteria foi mais do que o dobro em termos percentuais, isto é, 78,7% da renda total de bilheteria no primeiro semestre. Os brasileiros, por sua vez, representam 26,0% dos filmes exibidos com uma participação de 16,6% da bilheteria. É interessante observar que os números do caso brasileiro mantém o padrão do que ocorreu em 2012. Já comentei em outro post (http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2013/03/distribuicao-de-filmes-no-mercado.html) que em 2012 foram exibidos 513 filmes, dos quais 136, ou seja, pouco mais de um quarto (26,5%) eram filmes nacionais.

Em terceiro lugar, em termos de bilheteria, a Espanha contribuiu com 2,2% do faturamento das salas de cinema no Brasil nesse período, com apenas 8 filmes. O caso do cinema francês chama a atenção pela diferença entre as proporções de número de filmes e renda de bilheteria. Os 54 filmes franceses colocariam a França em terceiro lugar no mercado brasileiro se fosse usado o número de filmes exibidos, correspondendo a 15,8%. No entanto, sua posição cai para quarto lugar, pois a arrecadação dos filmes franceses nesse período correspondeu a aproximadamente 1% do mercado brasileiro.

A cinematografia europeia está representada, ainda, por filmes do Reino Unido, cujos nove filmes conseguiram capturar 0,5% da bilheteria. Além disso, houve a presença de quatro filmes dinamarqueses (0,3% da bilheteria). Seis filmes alemães, sete italianos, e um filme de Romênia, Hungria, Noruega, Turquia, Finlândia, Polônia, Bélgica, Grécia e Portugal completam a cinematografia europeia exibida no primeiro semestre de 2013 no Brasil. Esses 22 filmes contribuíram com R$ 1.128.661,58 (0,1%). No total, a filmografia de 15 países europeus, com 97 filmes, correspondeu a 4,1% da bilheteria.

Praticamente inexpressiva é a participação de filmes latino-americanos no mercado brasileiro. Em número de filmes, Argentina vem em primeiro lugar com nove, seguida do Chile com quatro filmes. Além desses dois países, foram exibidos dois filmes mexicanos, dois cubanos, dois uruguaios, um peruano e um venezuelano. No total, 21 filmes cuja arrecadação em bilheterias foi de R$ 1.576.855,33, pouco menos de 0,2% da bilheteria total das salas de cinema brasileiras.

Rússia, Coréia do Sul, Canadá, Arábia Saudita, Israel, China, Irã, Japão e Tailândia completam essas estatísticas com 18 filmes e 0,6% da bilheteria. É notável a ausência de filmes indianos e nigerianos, dois mercados produtores de cinematografia significativa. Ademais, no caso da África, chama a atenção, também, a ausência de filmografia dos países de língua portuguesa daquele continente. Esses dados estão detalhados na tabela a seguir.

PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES NO MERCADO CINEMATOGRÁFICO BRASILEIRO
04/01/2013 A 04/06/2013
País
Número de Filmes
Público
Renda
EUA
118*
56.305.866
672.592.414,93
Brasil
89
13.599.459
141.855.513,76
Espanha
8
1.592.295
18.707.294,50
França
54
702.514
8.387.546,95
Reino Unido
9
340.710
4.358.132,75
Dinamarca
4
211.778
2.655.846,58
Rússia
2
142.374
2.059.712,10
Chile
4**
66.894
764.596,64
Argentina
9
58.176
710.243,50
Alemanha
6
41.616
459.716,01
Coréia do Sul
3
31.677
374.711,40
Itália
7
29.018
348.289,45
Canadá
3
20.543
251.349,94
Arábia Saudita
1
14.253
174.932,79
Romênia
1
13.231
148.109,00
Hungria
1
11.495
115.706,62
México
2
7.312
79.570,35
Israel
2
6.294
68.197,00
Noruega
1
4.400
42.060,50
China
3
2.600
22.711,50
Cuba
2
1.511
21.094,84
Turquia
1
2.642
12.767,00
Irã
2
515
1.728,50
Uruguai
2
118
1.193,00
Japão
1
79
1.178,00
Finlândia
1
71
627,00
Polônia
1
61
490,00
Tailândia
1***
90
464,00
Bélgica
1
46
348,00
Grécia
1
51
310,00
Portugal
1
23
238,00
Peru
1
11
91,00
Venezuela
1
12
66,00
Total
342
73.207.735
854.226.971,61
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados disponíveis em oca.ancine.gov.br, acesso em 10/08/2013.
* 1filme em coprodução com França
** 1 filme em coprodução com França e Espanha
*** Coprodução com Espanha, França, Alemanha e Reino Unido

Uma constatação interessante resulta da análise dos filmes de maior bilheteria de cada país. Na tabela a seguir, estão representados os filmes de maior bilheteria de cada um dos países que foram vistos por mais de 10.000 expectadores. São treze filmes que arrecadaram R$ 153.500.019, 91 oriundos de 12.809.109 pessoas.

A participação do filme mais visto de cada país, reproduz as posições dos cinco países que lideraram o ranking de bilheteria total (EUA, Brasil, Espanha, França e Reino Unido). Dinamarca e Rússia invertem suas posições, e são seguidas pelo Chile em oitavo lugar com o filme No. Logo abaixo, Alemanha e Argentina invertem, também, suas posições em relação à tabela anterior, vindo logo depois Coréia do Sul. Por fim, Canadá e Itália completam a lista, invertendo suas posições também. Mas, no conjunto, os países são os mesmos das primeiras treze posições da tabela anterior.

POSIÇÃO DE CADA PAÍS CLASSIFICADO PELO FILME DE MAIOR BILHETERIA
País
Filme de maior bilheteria
Número máximo de salas
Número de Semanas
Público
Renda
EUA
Homem de Ferro 3
1.253
10
7.632.818
96.484.427,00
Brasil
De pernas pro ar 2
652
14
3.787.852
39.375.393,54
Espanha
As Aventuras de Tadeo
383
16
601.615
7.590.473,00
França
Amor
54
19
223.820
2.652.916,58
Reino Unido
Anna Karenina
36
16
155.408
2.169.970,00
Rússia
O reino gelado
179
6
141.754
2.055.471,52
Dinamarca
Amor é tudo o que você precisa
100
14
91.847
1.103.546,45
Chile
No
19
21
60.328
679.138,14
Alemanha
Barbara
12
18
36.606
422.062,13
Argentina
2 mais 2
36
9
23.705
304.495,39
Coréia do Sul
A visitante francesa
12
15
21.443
273.490,43
Canadá
O que traz boas novas
11
9
18.891
238.246,84
Itália
Cesar deve morrer
7
19
13.022
150.388,89
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados disponíveis em oca.ancine.gov.br, acesso em 10/08/2013.

A tabela acima demonstra também uma impressionante diferença nos números máximos de salas usadas pelos filmes em uma semana cinematográfica. Os dados do OCA revelam que a exibição dos 342 filmes foi feita em uma média de 3.800 salas por semana. Como pode ser observado, o filme Homem de Ferro 3 foi exibido em 1.253 salas em uma semana, ao passo que o filme italiano de maior bilheteria no Brasil esteve presente em apenas sete salas. O filme brasileiro, De pernas pro ar 2, atingiu um máximo de 652 salas de cinema. No entanto, para a maior parte dos filmes, o número máximo de salas fica entre sete e 54.

Por fim, nesse período de 26 semanas cinematográficas, 24 filmes conseguiram obter bilheterias que ultrapassaram R$ 10 milhões de reais. O Brasil conta com cinco filmes nessa lista. Os demais são produções norte-americanas, conforme se verifica na próxima tabela.

FILMES COM BILHETERIA ACIMA DE R$ 10 MILHÕES
Filme
Produtora
País
Renda
Homem de ferro 3
Disney
EUA
96.484.427,00
Velozes e furiosos 6
Universal
EUA
48.918.185,00
João e Maria: Caçadores de Bruxas
Paramount
EUA
48.663.644,00
De pernas pro ar 2
Downtown/Paris/RioFilme
Brasil
39.375.393,54
Detona Ralph
Disney
EUA
39.322.328,00
Se beber, não case! Parte 3
Warner
EUA
34.746.409,00
Os Croods
Fox
EUA
33.581.585,00
Vai que dá certo
Imagem (Wmix)
Brasil
28.990.665,92
Universidade Monstros
Disney
EUA
25.486.169,00
Oz, mágico e poderoso
Disney
EUA
24.164.075,00
G.I. Joe: Retaliação
Paramount
EUA
18.871.154,00
Somos tão jovens
Imagem/Fox
Brasil
18.249.281,48
Minha mãe é uma peça
Downtown/Paris/RioFilme
Brasil
17.561.626,87
Duro de matar: Um bom dia para morrer
Fox
EUA
17.325.098,00
Reino escondido
Fox
EUA
16.642.979,00
O lado bom da vida
Paris (SM)
EUA
16.138.410,20
As aventuras de Pi
Fox
EUA
15.844.996,00
Faroeste caboclo
Europa Filmes/RioFilme
Brasil
15.250.391,70
Django livre
Sony (Columbia)
EUA
14.176.684,85
Guerra mundial z
Paramount
EUA
14.100.011,00
Depois da Terra
Sony (Columbia)
EUA
13.603.331,25
Oblivion
Universal
EUA
11.828.649,00
Jack - o Caçador de Gigantes
Warner
EUA
11.801.039,00
Além da escuridão - Star Trek
Paramount
EUA
11.260.715,00
Total
632.387.248,81
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados disponíveis em oca.ancine.gov.br, acesso em 10/08/2013.

Como se pode observar, as chamadas seis majors (Disney, Paramount, Sony, Universal, Warner e Fox) estão presentes na lista. A Disney com quatro filmes lidera a bilheteria com R$185.456.999,00. Em segundo lugar, a Paramount com quatro filmes faturou R$ 92.895.524,00. Também com quatro filmes, aparece a Fox com uma renda de R$ 83.394. 658,00. No quarto lugar aparece mais uma major, a Universal com R$ 60.746.834,00.  A Dowtown/Paris/RioFilme, nacional, conseguiu capturar o quinto lugar no ranking de bilheteria entre as produtoras, com duas comédias que faturaram R$ 56.937.020,41.

A participação dos cinco filmes brasileiros nessa bilheteria foi de 18,9% e os filmes americanos representaram 82,1%. O que chama a atenção nesses dados é que 24 filmes, ou seja, apenas 7,0% dos filmes exibidos nesse período, conseguiram arrecadar 74,0% da renda gerada por 342 filmes.


Esse quadro demonstra uma dominação assustadora da cinematografia dos EUA sobre o mercado brasileiro. Fica a pergunta: como ampliar a participação de outras cinematografias e diminuir essa excessiva concentração de público em um número muito pequeno de filmes, cuja qualidade cinematográfica nem sempre é a melhor?