sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A poética do selvagem em Buñuel

Nos meus estudos do Cinema quero privilegiar o conhecimento e a exploração da obra cinematográfica de Luis Buñuel. Sempre que possível busco algum texto que me ajude nessa jornada. Hoje, último dia de trabalho antes do recesso entre Natal e Ano Novo, dou uma pausa e digito no google "sobre Buñuel". Entre os possíveis links sugeridos um chama minha atenção: 
http://www.usp.br/significacao/pdf/Significacao32_3_Eduardo%20Pen%C3%8C%C6%92uela%20Can%C3%8C%C6%92izal.pdf - Luis Buñuel: uma poética do selvagem.

Algum tempo atrás, tive a oportunidade ler um texto do próprio Buñuel sobre o cinema poesia: Buñuel, Luis (1991) “Cinema: instrumento de poesia”, in Xavier, Ismail (org.) A Experiência do Cinema. Rio de Janeiro: Graal, pp. 333-337. 

Imediatamente inicio a leitura do texto de autoria de Eduardo Peñuela Cañizal, que descubro ser aposentado como Professor Titular da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, atualmente coordenando o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Paulista.

Em seu texto, Cañizal analisa os efeitos das rupturas retóricas no nível da trilha sonora e do enxerto de imagens em filmes de Luis Buñuel. Entre os filmes comentados, estão El Angel Exterminador, Le Discret Charme de la Bourgeoisie,  Belle de Jour, Un Chien Andalou, Le Journal d’une Femme de Chambre,  La Voie Lactée,  Los Olvidados, Subida al cielo e The Young One. 

Para conceituar a poética do selvagem, Cañizal argumenta que "a tendência à subversão é uma constante tanto na obra quanto muitos dos comportamentos deste criador de sonhos, fascinado sempre pela possibilidade de transformar a pacata sensatez do sorriso na liberadora mordacidade do riso. Enquanto vestígio primitivo de uma atitude agressiva domesticada pelo animal humano, o sorriso pode se transformar, paulatinamente, na subversão de uma gargalhada. Criando tensões entre esses dois pólos, o cineasta – como pretendo mostrar neste trabalho – constrói uma poética do selvagem para tumultuar aspectos da escripção fílmica feita mediante combinatórias expressivas em que imagens e sons se interpenetram e buscam, com essa simbiose, as raízes do originário. Uma poética ancorada no princípio retórico da ruptura utilizada enquanto meio de desfigurar as formas expressivo-semânticas dos falares sintáticos consagrados pelo hábito e, no caso, procurar no entremeio dessas desfigurações vestígios do primitivo, ressonâncias do embrionário e das pulsões do instinto (p. 68-69).

Em sua conclusão, "as rupturas poéticas levadas a cabo por Buñuel no uso dos componentes sonoros privilegiam o aparecimento do ruído e, de outro, que as promovidas no campo das imagens favorecem a participação dos animais, domésticos ou não. Pode-se dizer que a junção de tais elementos produz efeitos de ambigüidade em que o ruído e a irracionalidade se apresentam como traços predominantes, como forças que se opõem às estruturas normativas sobre as quais assentam as ações dos relatos do cinema clássico. Além disso, a maneira de configurar esses rompimentos expressivo-semânticos caracteriza o que aqui se entende por poética do selvagem" (p.80).

CAÑIZAL, E. P. Luis Buñuel: uma poética do selvagem. Significação, 32, p. 65-80, 2009.

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