sábado, 3 de janeiro de 2015

Uma viagem pelo cinema no mundo ou pelo mundo do cinema

A primeira leitura em cinema desse ano estendeu-se por três dias, entre Londrina e Maringá. Em Cinema Mundial Contemporâneo, organizado por Mauro Baptista e Fernando Mascarello, é possível conhecer um pouco sobre a cinematografia de alguns países esparramados por quatro continentes. Uma leitura que se inicia com prefácio de Fernão Pessoa Ramos que nos chama a atenção sobre do que se trata quando falamos em cinema: Neste livro, que não tem perfil exaustivo, encontramos tendências, autores, estilos, filmes marcantes do cinema de hoje... (p. 11).

A seguir, Fernando Mascarello desenvolve argumento muito bem elaborado defendendo a continuidade do uso da expressão cinema nacional em tempos globais. Para ele, apesar da crescente presença do transnacional na produção e recepção de filmes, a reinvenção do conceito de cinema nacional envolve várias possibilidades, com destaque para a compreensão que, para além do fato de que o cinema nacional é também constituído pela sua recepção, que tanto essa recepção quanto a textualidade dos filmes nacionais são direta e vigorosamente determinadas, entre outros fatores, pela circulação e recepção doméstica seja de filmes estrangeiros, seja de produtos televisivos nacionais e estrangeiros (p. 50). Para Mascarello, essa reinvenção do conceito de cinema nacional demanda a superação de algumas insuficiências e vícios históricos presentes nesse conceito que dizem respeito a: apenas, considerar os filmes, sem levar em conta os contextos produtivos e receptivos; canonização de parte da cinematografia como legítima representante do nacional em oposição à desconsideração de outras vertentes; e, por fim, a exclusão das culturas do vídeo e da televisão (p, 29).

Estruturado em cinco partes adicionais, o livro permite uma viagem por países europeus, latino-americanos, africanos, asiáticos, além da discussão da produção hollywoodiana e independente dos Estados Unidos. 

No caso do cinema brasileiro, há dois capítulo inseridos no livro; Luiz Zanin Orichio aborda os filmes de ficção entre 1990 e 2007; enquanto que o documentário brasileiro de 1999 a 2007 é analisado por Consuelo Lins e Cláudia Mesquita. 

Ainda na América Latina, há um capítulo de autoria de Andrea Molfetta sobre o cinema argentino, e um capítulo instigante sobre os diretores transnacionais latino-americanos (Hector Babenco, Bruno Barreto, Walter Salles, Fernando Meirelles, Luiz Puenzo, Alejandro Agresti, Luiz Mandoki, Alfonso Arau, Alfonso Cuaron, Alejandro Iñárritu e Guillermo Del Toro). Esse capítulo, de autoria de Cléber Eduardo, acaba demonstrando a dificuldade do rótulo de cinema nacional abarcar experiências individuais que transcendem os limites geográficos de um país. 

Algo semelhante pode ser apreendido no capítulo de Mahomed Bamba sobre o cinema africano, tratado de forma singular, como uma produção continental, mas também de forma plural ao se referir especialmente à Nigéria e África do Sul. Também, no capítulo final sobre o cinema iraniano, Alessandra Meleiro aponta a dificuldade de batizar o cinema realizado pelos cineastas iranianos, em função de suas trajetórias formativas individuais realizadas em países distintos. Para ela, as trajetórias percorridas por Mehrjul, Farmanara, Bahram Beizai, Kiarostami, Naderi e Mohsen Makhmalbaf exemplificam que estar além das fronteiras territoriais não pode ser indicador de já não ser iraniano, assim como viver no Irã não significa que a estética e a sensibilidade política sejam inteiramente "nacionais" (p. 350).

Outros cinemas nacionais apresentados no livro incluem o francês, o britânico, o italiano, o espanhol e um capítulo dedicado ao movimento Dogma 95 originário da Dinamarca. Além desses cinco capítulos dedicados ao cinema de países europeus, da Ásia são analisados os casos da China, Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Irã. 

Como fruto principal da leitura, surgiu em mim um reforço para a vontade de me debruçar sobre o estudo do cinema brasileiro contemporâneo, abarcando nessa iniciativa um olhar mais abrangente que envolva não apenas o lado da produção, mas também de sua recepção. Este estímulo é inspirado no texto de Fernando Mascarello que. ao alertar sobre a temeridade de apostar em um futuro inexistente para as cinematografias nacionais,  aponta o que chama de permanências: de uma identidade particular ao cinema, das determinações do Estado-nação e, logo, de muitas das especificidades dos cinema nacionais (p.27). 

Assim, a partir das análises apresentadas em relação aos anos anteriores a 2007 no livro, me parece oportuno verificar e descrever o cinema brasileiro entre 2007 e 2014.

BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando Cinema Mundial Contemporâneo. 2a. Edição. Campinas, SP: Papirus, 2012.

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