quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cinema Brasileiro Moderno

Três ensaios compõem o livro de bolso Cinema Brasileiro Moderno de Ismail Xavier publicado pela Paz e Terra na coleção Leitura. Nas palavras do autor, os textos desenham visões de conjunto do cinema brasileiro pautado pela experiência do cinema moderno, em diálogo com o neo-realismo e a Nouvelle Vague, experiência que ganhou forma no Cinema Novos dos anos 1960 e teve desdobramentos fundamentais no tropicalismo, no Cinema Marginal e nos debates que marcaram as décadas seguintes, até 1984 (p. 7),
O primeiro ensaio, publicado originalmente em livro de 1995 na Itália, como parte do Festival Internazionale "Cinema Giovani" em Turim aborda o período dos anos 60 até inicio dos 90 do século passsado. Panorama do cinema de autor desse período, o texto de Xavier aponta uma série de filmes que precisam ser vistos por quem deseja conhecer a trajetória do cinema brasileiro e, em particular, além de abordar a estética das produções daqueles anos, retoma a proposição de Paulo Emílio Salles Gomes em Cinema: trajetória no subdesenvolvimento de 1973, levando à reflexão sobre a permanência da condição descrita por Paulo Emílio nesse período analisado. Aborda, antes disso, a questão nacional e sua relação com o cinema moderno. Me soou estranho, a inexistência de um tratamento sobre a época das chamadas pornochanchadas, que,  en passant, Xavier menciona ao comentar brevemente a comédia erótica. Minha memória dos anos 70 é de uma presença muito forte desse tipo de produção no cinema brasileiro. Embora, não se possa afirmar sobre a existência de um cinema de autor nessa produção. Ou sim?
O segundo ensaio trata de período de tempo quase coincidente, discorrendo sobre o cinema de autor entre o golpe militar e a chamada abertura, demarcados por Xavier como sendo entre 1964 e 1984. Texto mais longo dos que compõem o livro, este foi para mim uma leitura riquíssima em termos de trajetória do cinema de autor do Brasil nesses 20 anos. Há muitos cineastas que preciso visitar e que segundo Xavier, tiveram produção autoral significativa. Gostei muito da abordagem, às vezes, sutil da tensão entre os cinemanovistas e os cineastas do cinema marginal. Ao longo da leitura lembrei-me de Walter Hugo Khoury que quase passa sem menção no texto de Xavier, apenas referenciado à página 102 quando Xavier fala do movimento geral do "sexo em cena", que se manifesta num amplo espectro (do intimismo existencial de Khoury às festas no Rio Babilônia).
Por fim, o último ensaio trata de Glauber Rocha, esse ícone do cinema brasileiro. Entitulado Glauber Rocha: o desejo da hisória o texto de Xavier faz análise minuciosa da carreira do cineasta bahiano.  Em uma seção do ensaio, Ismail Xavier aborda as dimensões do Barroco no cinema de Glauber Rocha (p. 127 a 137) cujo estilo se manifesta já, segundo Xavier, em seu primeiro curta metragem, O Pátio (1959). Nas palavras de Xavier: o que veremos ao longo da obra será sempre esta tensão entre espaço aberto e demarcação, entre empostação teatral, na fala e gesto, e uma agilidade de câmara notável (p. 128). Ainda nessa seção, são tratadas as questões associadas a política, poder e o papel do intelectual na produção Glauberiana.
Em síntese, o livro de Xavier forma uma leitura densa, crítica e altamente informativa de três décadas do cinema brasileiro, principalmente o de autor, que pode ser usado como guia de aproximação à cinematografia nacional por qualquer estudioso do cinema, ou cinéfilo, em busca de uma aproximação com a história dessa arte em nosso país.

XAVIER, Ismail Cinema Brasileiro Moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001. 146 p.

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