segunda-feira, 11 de março de 2013

O que é o bom cinema?

A experiência de assistir um filme pode ser mais que entretenimento. Responder à pergunta que dá título a esse post pode parecer uma tarefa fácil, mas não é. Do posto de vista técnico há uma resposta precisa para essa questão. Mas não quero, ou melhor não tenho competência para falar nessa dimensão.

Prefiro falar sobre isso do ponto de vista pessoal. Em termos subjetivos, para cada um, o bom cinema é aquele que dá à pessoa uma sensação de prazer. Mas, o prazer tem várias faces. Pode ser um prazer estético, que vem da fruição de coisas belas. Pode ser um prazer relaxante, ao permitir que o espectador se afaste da pressão do cotidiano durante algum tempo de sua vida. Pode ser educativo, ao informar algo que desconhecíamos. Pode ser um prazer sensual ao despertar emoções ligadas ao desejo. As fontes de prazer cinematográfico são inúmeras, não consigo exaurir essa questão. Mas, a experiência cinematográfica é única para cada um e, dentro de um mínimo de qualidade técnica, o no que consiste um bom cinema é uma resposta múltipla.

Ontem, ao assistir Barbara, filme alemão dirigido por Christian Petzold, tive uma experiência filmíca que me iluminou a respeito do que é o bom cinema para mim. A sinopse do filme não revela muito:

No verão de 1980, Barbara, uma médica da Alemanha Oriental, tenta tirar um visto para poder sair do país. Como punição, ela é transferida de Berlim para um pequeno hospital no interior do país. Jörg, seu amante do lado ocidental, planeja sua fuga. Barbara espera. O apartamento novo, os vizinhos, o clima de verão e do interior – nada disso significa nada para ela. Trabalhando como cirurgiã pediátrica, ela é atenciosa com os pacientes, mas bastante distante em relação aos colegas. Com o dia de sua fuga se aproximando rapidamente, Barbara começa a perder o controle sobre si mesma, seus planos, sobre o amor. (http://www.cineplayers.com/filme.php?id=15130).


O filme chegou a ser cogitado como favorito da crítica para levar o Urso de Ouro do Festival de Berlin no ano passado (http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/02/filme-alemao-e-forte-candidato-no-festival-de-berlim-1.html). Não levou, mas Petzold ganhou o Urso de Prata como melhor diretor.

Barbara conhece André, seu chefe nesse hospital. É no desenvolvimento dessa relação que surgiu, nesse filme, uma compreensão para mim, de como eu respondo à ideia do que é o bom cinema. André é o chefe de Barbara, um dia este mostra a Barbara o laboratório que conseguiu montar no pequeno hospital do interior. Em uma das paredes, como peça de decoração, há uma reprodução da tela Aula de Anatomia do Dr Tulp, de Rembrandt, um dos quadros mais famosos desse pintor holandês (http://www.auladearte.com.br/historia_da_arte/rembrandt.htm).

A reprodução chama a atenção de Barbara. Nessa cena, André mostra a Barbara um erro na tela e ao comentar sobre isso afirma:

_ Rembrandt quer nos mostrar algo que não podemos ver.

Ao ouvir (ler) essa frase (não sei alemão!), me veio imediatamente à mente o que significa o bom cinema para mim. Mais do que entretenimento, mais do que informação, mais do que sensualidade, para mim o bom cinema é aquele que tenta me mostrar o que não consigo ver. É o caso de Barbara!

Assim como Rembrandt, na tela, parece querer mostrar-nos algo que os personagens do quadro estavam vendo, os bons filmes são experiências em que tenho a sensação de ter visto algo novo, algo cujo significado vai além do entretenimento. Que me faz pensar sobre a condição humana.

Essa mesma cena, por outro lado, me fez refletir sobre a questão da intertextualidade. No filme, o personagem de André, ao mostrar o que percebeu na tela de Rembrandt, é um momento em que Plotzel usa da intertextualidade. Uma imagem de outra arte ajuda na construção do significado do filme. Assim, como André quer que Barbara veja algo que não consegue ver na relação entre eles, a narrativa do filme quer nos mostrar algo que ainda não conseguimos ver. Mas, esse é um tema que ainda não domino. Por enquanto, apenas uma intuição!


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