domingo, 11 de junho de 2017

A volta ao mundo do cinema brasileiro em 80 filmes: 5 - recomeçando a viagem com "Olhos Azuis"

Em julho de 2015, após assistir a "O padre e a moça" de Joaquim Pedro de Andrade, comecei uma série de posts neste blog: http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html. Uma semana depois, escrevi o segundo post após ter visto "Rio, 40 graus" de Nelson Pereira dos Santos: http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/07/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_22.html. O terceiro destino dessa viagem foi "Ganga Bruta" de Humbero Mauro, http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html, seguido de "Limite" de Mário Peixoto, http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2015/08/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro_30.html. Mas, interrompi a viagem naquele ano.
No ano passado, no final de novembro, tentei recomeçar a viagem a partir do último destino. Revi "Limite" e registrei minahs impressões em http://leiturasemcinema.blogspot.com.br/2016/11/a-volta-ao-mundo-do-cinema-brasileiro.html. Mas, outros destinos me afastaram, mais uma vez, dessa viagem. 
Hoje, é o momento da retomada, de minha retomada do cinema brasileiro. Agora com um roteiro pré-estabelecido: os filmes brasileiros exibidos no Canal Brasil. O ponto de partida foi "Olhos Azuis" de José Joffily, produção de 2009, exibida pela primeira vez no Canal Brasil em 07/07/2011.
Conheci o pai de José Joffily, também José Joffily, em Londrina no final dos anos 70 e tive o privilégio de conviver com o empresário bem sucedido que tornou-se historiador por conta própria nos anos 80, ex-político que fez parte dos cassados no primeiro ato institucional da ditadura brasileira após o golpe de 1964. José Joffily, o pai, escreveu Anayde Beiriz, paixão e morte na Revolução de 30 em 1980, que seria a base da adaptação para o filme "Parayba Mulher Macho" lançado em 1983 por Tizuka Yamazaki, a quem tive a oportunidade de conhecer em Londrina quando ela veio para o lançamento de seu filme na cidade. Telma e eu, minha então esposa, que viria a ser mãe de Paloma e Fernanda, nossa filhas, jantamos com Tizuka e José Joffily (pai) em um dos restaurantes de Londrna, provavelmente o antigo Casarão na rua Maringá.
O cineasta José Joffily não pude, ainda, conhecer pessoalmente. Em 2003, estive em uma sessão de "Dois perdidos em uma noite suja", um de seus filmes em uma cinematografia que já completou treze produções como diretor (http://www.imdb.com/name/nm0423631/). Esta seção foi durante a sétima edição do Festibal de Cinema, Vídeo e Dcine que ocorreu no Canal da Música em Curitiba em maio daquele ano. Joffily estava presente na sessão e fez a apresentação do filme. Pensei em procurá-lo após a sessão, mas quando as luzes se acenderam, ele já não estava mais na sala. Foi uma pena, pois desejava muito me apresentar a ele, principlamente por ter convivido com o velho Joffily por quase 20 anos. Algum dia...
O filme de Joffily narra uma história dramática de migrantes latino-americanos que são detidos na fronteira de um aeroporto daquele país para averiguações antes de receberem visto de entrada. Entre eles, um brasileiro, uma cubana, um casal de poetas argentinos, uma equipe de Taekwondo de Honduras, entre outros. Nonato, o brasileiro interpretado por Irandhir Santos, está retornando após ter passado algum tempo no Brasil. Portador do green card, após visitar a filha em Pernambuco, imaginava que sua reentrada nos EUA seria tranquila. Mas, nada seria como havia imaginado.
Utilizando uma narrativa complexa, repleta de flasbbacks,alternando presente e passado, o filme vai relatando os conflitos de fronteira de uma forma cada vez mais intensa e tensa. Ao mesmo tempo, conta a busca do ex-chefe da fronteira aeroportuária por uma menina, filha de Nonato, dois anos depois, em Recife e Petrolina, Nessa busca, Marshall é ajudado por uma prostitua, Bia, que conhecera em Recife.
O filme é um constante exercício de tensão em que dominação e submissão se digladiam em tramas paralelas, mesmo quando não são explicitamente formuladas. Para mim, este é o caso, por exemplo, da relação entre Bia e Marshall, interpretados por Cristina Lago e David Rasche. Na relaçao dos dois personagens, dominação e submissão alternam-se entre os dois polos, numa relação de poder sutil em que, a meu ver, o feminino se mostra, pouco a pouco, dominante. Mas, essa é só minha opinião. Veja você o filme e tire suas próprias conclusões.
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Filme que me agradou muito, "Olhos azuis" contou com perfomances muito boas de Irandhir Santos, David Rasche e Cristina Lago. De certa forma, "Olhos Azuis" nos remete a "Dois perdidos numa noite suja" que também tratou de imigrantes brasileiros nos EUA e, até onde minha memória me permite recordar, também de relação de poder.
Encontrei uma breve análise do filme de Joffily em artigo de Rosângela Fachel de Medeiros em que a autora "através da análise de produções cinematográficas contemporâneas, ... propõe o reconhecimento das ações do “contrabando” e da “tradução” como ferramentas de transculturação recorrentes na configuração dos Cinemas Latino-americanos, ... e propõe o reconhecimento da transculturação como estética destes cinemas" (p. 1). O filme de Joffily é, ainda, brevemente citado em texto de Maurício de Bragança que "discute os limites da cultura latino-americana no interior do universo midiático... onde uma série de produções audiovisuais tematizam as identidades latino-americanas a partir do conceito de fronteira" (p. 1).
São textos que valem a leitura!

BRAGANÇA, M. de Cartografias latino-americanas: Fronteiras midiáticas de um continente em construção. Ecopós, v. 14, n. 1, p. 1-16, 2011.

MEDEIROS, R. F. de A transculturação como estética dos Cinemas Latino-americanos. Imagofagia, n. 6, p. 1-21, 2012.




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