segunda-feira, 8 de abril de 2013

Estética do Cinema

Sábado e domingo passados, participei de mais um módulo do curso de especialização em cinema na Universidade Tuiuti do Paraná. O tema foi Estética do Cinema conduzido de forma extremamente agradável e elucidativa pelo brilhante professor Fernando Bini.

Para mim, neófito nesse campo do conhecimento, as discussões e apresentações feitas por Bini atuaram como um estimulante da vontade de conhecer mais. Como ele mesmo disse: seu propósito era abrir portas. Para mim foi bem sucedido. Foi a primeira vez que tive a oportunidade de ler Walter Benjamin em um texto indicado por Bini - A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução. Dessa leitura adveio a vontade de ler outros textos de Benjamin, além de, é óbvio, continuar as leituras de cinema. Estas vou registrando nesse blog que, aos poucos, vai se tornando um quase diário de um estudante tardio do tema.

Minhas idas aos sebos de Curitiba, frequentemente, resultam na aquisição de livros que vão se empilhando em minha escrivaninha ou nas estantes. Minha propensão à compra de livros é mais veloz que minha capacidade de leitura. Mas, um dia, espero, essas velocidades relativas se inverterão.

Ontem, à noite, fui verificar se nos livros à minha espera havia algum sobre estética do cinema. Encontrei um pequeno volume escrito por Gerard Betton, publicado originalmente na França em 1983, em tradução brasileira de 1987, pela Editora Martins Fontes. O título do livro é "Estética do Cinema" e, em suas 120 páginas, pude adquirir um pouco mais de compreensão sobre a linguagem do cinema e seus termos que ainda não são muito claros para mim. Sinto-me como uma criança que precisa adquirir o domínio da linguagem do meio onde cresce. Pena que, aos 55 anos, quase 56, a velocidade de aquisição da linguagem não seja tão rápida quanto a de uma criança. Mas, o fascínio é o mesmo!

O livro de Betton, na forma em que está estrutuado, foi mais um passo de aproximação com a linguagem do cinema. Logo após a introdução, começou minha jornada por termos e significações que aos poucos, pela repetição, vou aprendendo e incorporando a meu discurso. A leitura foi proveitosa, repleta de indicações de filmes nos quais se podem perceber o que Betton argumentava. Pena que ao final, o livro se encerra em um capítulo em que são exploradas as semelhanças e diferenças entre cinema e teatro e cinema e literatura, mas não há uma conclusão do livro propriamente dita. Senti um estranhamento! Meio perdido! Mas, e daí? Me ajude a entender melhor esse argumento! Mas, essa deve ser uma tarefa minha.

Foi uma leitura que precisava ser feita. No livro, tomei conhecimento sobre atitudes estéticas, diferentes modos de representação, realismos e idealismos cinematográficos, os signos da escrita e elementos da linguagem, montagem ritmica, intelectual ou ideológica, e narrativa.

O capítulo mais longo, e mais informativo também, é o segundo que apresenta os signos de uma escrita e os elementos de uma linguagem. Na questão do tempo, Betton discorre sobre a câmera lenta, a câmera rápida, a interrupção do movimento, a inversão do movimento e a contração e dilatação do tempo. Depos vem a discussão do espaço: primeiro plano, ângulos e movimentos de câmera. A terceira parte do capítulo é dedicada à palavra e ao som: diálogos e música. Por fim, o capítulo apresenta outros elementos da linguagem cinematográfica: o cenário, a iluminação, o guarda-roupa, a cor, a tela larga, a profundidade de campo e a representação.

Ação humana tão complexa, o cinema é para Betton "trabalho eminentemente coletivo, um bom filme, assim como toda boa criação, só pode ser o resultado de um entendimento harmonioso entre todos os participantes" (p. 43). Essa afirmação ecoou o que alguns colegas do curso haviam comentado. Chamou, também, minha atenção, referência que Betton faz a palavras de Robert Bresson nos Cahiers du  Cinéma, n. 75:

"Assim como as palavras do dicionário, as imagens só adquirem poder através de sua relação"
"O cinema deve se exprimir não por imagens, mas por relações de imagens, o que não é de maneira alguma a mesma coisa. Da mesma forma, um pintor não se exprime por cores, mas por relações de cores: um azul é um azul por si mesmo, mas se está ao lado de um verde ou de um vermelho, já não é mais o mesmo azul." (p. 76).

Nesse trecho, obviamente, estava em discussão a montagem. Nessa mesma página, Betton lembra a "experiência Kulechov" que revelou as possibilidades criativas da montagem cinematográfica. Aliás, essa experiência é uma das memórias mais antigas que trago de minhas leituras de cinema. A primeira vez que tomei contato com um relato dela, foi há mais de 20 anos, não me lembro em que livro, mas foi tão marcante para mim que a uso muitas vezes para explicar como a Administração não pode ser tão objetiva quanto tentam afirmá-la. Mas isso é outra história, para outro blog!

BETTON, Gerard Estética do Cinema. São Paulo: Martins Fontes, 1987, 120p.

Nenhum comentário:

Postar um comentário