quinta-feira, 1 de maio de 2014

Cinco Leituras

Continuo em minha jornada de estudos sobre o cinema. Nos últimos meses, em um ritmo um pouco mais lento, pois ainda não posso me dedicar exclusivamente a este tema. Enquanto não formulo um projeto mais sistematizado de estudo, vou lendo aquilo que me cai à mão, em minhas visitas periódicas a sebos e livrarias.

Primeira leitura:
De Theodor Adorno, li três textos selecionados por Jorge M. B. de Almeida, que integram volume da Coleção Leitura da Paz e Terra: Indústria Cultural e Sociedade. Textos densos que demandam um retorno em momento oportuno, mas que me impactaram fortemente. Eis um par de trechos de A indústria cultural - o Iluminismo como mistificaçã das massas de Max Horkheimer e Teodor W. Adorno de 1947:

Os interessados adoram explicar a indústria cultural em termos tecnológicos. A particiapção de milhões em tal indústria imporia métodos de reprodução que, por seu turno, fazem com que inevitavelmente, em numerosos locais, necessidades iguais sejam satisfeitas com produtos estandardizados... O que não se diz é que o ambiente em que a técnica adquire tanto poder sobre a sociedade encarna o próprio poder dos economicamente mais fortes sobre a mesma sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena (p.8-9).

Junta-se a isso o acordo, ou ao menos, a determinação comum aos chefes executivos de não produzir ou admitir nada que não se assemelhe às suas tábuas da lei, ao seu conceito de consumidor, e, sobretudo, nada que se afaste de seu auto-retrato (p. 10).

Sessenta e sete anos depois, a nossa realidade ainda se reflete nessas frases? A produção do cinema brasileiro atual, amplamente dominada por uma única empresa, me inclina a uma resposta positiva. E a produção das chamadas majors? Parece que sim, também! Mas, não vou me precipitar. Neófito no campo, preciso aprender mais...

Segunda leitura:
Com Julio Cabrera me envolvo em reflexões sobre cinema e filosofia. Professor da UnB, Cabrera reintroduz sua noção de conceitos-imagem defendendo que além de proposições que são o medium tradicional de vinculação de conceitos, em medias situacionais, típicos da literatura e do cinema, os conceitos, além de relacionar elementos intelectuais, estão fortemente carregados de afeto, e sua afetividade entra em interação com os elementos intelectuais (p. 10). A partir dessa conisderação, Cabrera aponta o cinema como um dos meios que geram conceitos logopáticos, no sentido de um complexo intelectual-sensível-afetivo (p. 11). A partir dessas considerações, Cabrera utiliza, em seu livro, a análise de vários filmes e suas proposições (conceitos-imagens) comparando-os com ideias de Aristóteles, Kant e outros filósofos.

Terceira leitura:
Do mundo das ideias para o mundo da indústria, encontro em Cineturismo de Flávio Martins e Nascimento uma introdução a esse segmento da indústria do turismo que procura se apoiar na indústria do cinema como um mecanismo de desenvolvimento local e regional.

Quarta leitura:
Do real para a ficção, leio o roteiro escrito e comentado de Como Fazer um Filme de Amor de Luiz Moura e José Roberto Torero. Este foi meu professor de roteiro na especialziação em cinema na Universidade Tuiuti. Leitura agradável que demonstra a diferença entre intenções iniciais e resultados finais, a formalização de um roteiro e os acréscimos e mudanças que surgiram durante as filmagens.

Quinta leitura:
Para fechar o ciclo, nada melhor do que o relato da experiência de um cineasta. Andrzej Wajda, diretor de cinema polonês, depois de trinta anos de experiêcnia, escreve um livro para si mesmo, contendo conselhos a um jovem cineasta de 24 anos, idade que ele tinha quando passou a se dedicar ao cinema. Composto por 36 capítulos curtos, em Um Cinema Chamado Desejo Wajda nos conta sua experiência com a realização de filmes, desde a ideia até o dia de estréia, passando por roteiro, decupagem, escolha de atores, cenografia, iluminação, montagem, etc. Não é um livro técnico, mas se aprende muito com ele sobre como fazer cinema. E como esta é uma arte coletiva e não solitária.  Ao final do livro, uma mensagem de fé no coletivo que me emocionou:

... neste livro, sempre invoco o público e procuro me identificar com os outros... Os outros e eu representamos a única força, a única esperança. Sou contra a idéia de que a arte do cinema é um mistério, e o público um mal necessário à expressão do artista.
Foi por isso que aderi ao movimento polonês de Solidarnosc (Solidariedade). Sou fiel a seu ideal, pois vejo nele o único remédio para nossa solidão estéril, para o vazio que ameaça as pessoas que estão prontas a sacrificar o bem comum por seu conforto, para quem a paz só significa o seu desejo de que lhe deixem em paz... (p. 154).

ADORNO, T. Indústria Cultural e Sociedade. 4a. Edição. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 119p.

CABRERA, J. De Hitchcock a Greenway pela História da Filosofia (novas reflexões sobre cinema e filosofia). São Paulo: Nankin, 2007. 159p.

NASCIMENTO, F. M. Cineturismo. São Paulo: Aleph, 2009.

MOURA, L. e TORERO, J. R. Como fazer um filme de amor: roteiro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta, 2004.

WAJDA, A. Um Cinema Chamado Desejo. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

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